SOU DA CIDADE
SOU DA CIDADE, MEU IRMÃO
Levanto cedo
sonhando acordado
com o pé direito
tô queimando no asfalto
Tô sem trabalho
Descendo a ladeira
tô de bobeira
só não posso dar bandeira
Eu tô na pilha
aí sempre ligado
tô na vigilia
tô contigo, eu não abro
Se eu to na rua
Tem gente do meu lado
fica na tua
que é melhor ficar calado
Se eu tô em casa
no corredor, na sala
fujo da mira
aqui só tem bala perdida
Se chega a noite
só saio protegido
não tem mandinga
o amuleto é minha ginga
Dentro do carro
de oculos escuros
passo batido
não me pede que eu tô duro
Chiclete, fruta
mendigo , prostituta
cada sinal
cada ponto uma disputa
Sao Paulo, Osaka
Seul, Pequim
Rio ou Jacarta
E Bombaim
Tudo é cidade
É tudo igual
Em qualquer lingua
Isso é geral
DA JANELA VEJO A CIDADE ABERTA
INFINITA VISAO
SUAS RUAS, CURVAS, E FORMAS TAO DURAS
PULSA O MEU CORAÇAO
DA JANELA VEJO A CIDADE ALERTA
TAO INJUSTA VISAO
NAS CALÇADAS, PONTES, ESQUINAS, MARQUISES
PULSA O MEU CORAÇAO
Tudo é cidade
É tudo igual
Em qualquer lingua
Isso é geral
SOU DA CIDADE, MEU IRMAO
Alto do morro
de um prédio, um edifício
pra ver estrelas
solto fogos de artificio
Adrenalina
virando aquela esquina
tô amarrado
sonho de concreto armado
Código urbano
feito tambor na mata
é tudo igual
em qualquer lugar do mapa
Isso é a vida
é a natureza humana
não tem saída
é a natureza urbana
Agora sim
O dia chegou no fim
A vontade é geral
E eu vou sair pra social
Vou de bonde, vou de trem
Carro esporte, tudo bem
No circuito, na cidade
No subúrbio, no sacode
Espero a porta abrir
Não vou grilar, só vou curtir
Um amor legal
Ver os amigos, coisa e tal
E vadiar
A condição aliviar
Quero me perder
Quero me jogar
Chame Ademir, Big Boy, Messiê Limá
É o Baile da Pesada
Que chegou pra arrebentar
Hey, Mister D.J.
Quero nitroglicerina
Quero Maria Fumaça, Black Rio, adrenalina
Hey, Mister D.J.
Quero ouvir o batidão
Quero ouvir a Furacão
No Cassino Bangú
No Vera, no Portelão
No Chapéu Mangueira
No Mourisco, Pereirão
Em Caxias, no Gramacho
Para todos na Pavuna
No Mackenzie, São Gonçalo
Tô no Melo, Cascadura
Mas se liga sangue bom
Não sou de violência
nem sou de perder a razão
É que o bicho tá pegando
É que o couro tá comendo
e ninguém traz solução
Todo mundo ao mesmo tempo
Se mexe
iê, iê, iê
Toda a Terra inteira quer
Balançar
uô, uô, uô
Toda a Terra inteira
Roda que se mexe
E todo mundo nessa Terra
Se mexe
iê, iê, iê
Todo mundo ao mesmo tempo
Roda que se mexe
Toda a Terra inteira quer
Balançar
uô, uô, uô
Ao mesmo tempo em que se mexe e roda
A Terra inteira são cidades e cidades se alastrando
sobem morro, descem vale, comem terra, bebem mar
E são lugares e culturas se criando
É gente se multiplicando
Novas caras, novas casas e esquinas e paradas
E galeras pra fazer ritmo e rima em todas elas
Pra inventar uma lingua nova
Misturando só pra mexer
Enquanto o mundo tá lá fora
Inventa dança, inventa moda
Inventa tudo novamente
Até a roda
o que pode ser
o que vai ser, o que virá
Eu tô no Rio de Janeiro brasileiro
e o povo inteiro em fevereiro
andando solto em pleno Carnaval
esse lugar é pura invenção
Será real? ou imaginação?
vou seguir,vou andar, vou pensar
em tudo que ja vivi e sonhei
mas bem melhor
melhor que sonhar
é poder conquistar
um lugar
Cimento sangue na estrada
é para-choque, é corte, é porrada
tres da madrugada
de lá
Cachorro louco assustado
todo o dia mais um estrago
sai da na minha frente
valente
Gente quer se ver
no jornal, na geral
na radio, na Tv
Quem quer saber
de mim, de voce?
abre, compra e lê
Essa miseria todo o dia
naquele corpo ,só agua fria
jogado ali na boca
do rio
não se sabe de onde vem
só anda no teto do trem
surf do lado de fora
e agora
Gente quer se ver
no jornal, na geral
na radio, na TV
Quem quer saber
de mim, de voce?
abre, compra e lê
Fatos e fotos
fatos e fotos
é o que se vê
Fotos e fatos
por aí
Fatos e fotos
fatos e fotos
quem se lê
fotos e fatos
olha aí
Cada minuto consumido
em cada esquina, em cada revista
o que fazer com tanta
noticia
e o que é mentira e o que é verdade
o que é real ou mera miragem
o que é fake, fato ou
loja de foto
A lua apareceu do outro lado do mar
naquele instante
parei de frente para pensar
que a noite é a alma do eterno prazer
abraço a sorte
eu quero me fazer valer
Andando pela rua, vou olhando a cidade
acelerada
no coração da madrugada
passo pelo praia ,passo pelo Canal
tudo normal
vivendo entre o bem e o mal
No morro , na boate, condominio-favela
da zona norte `a zona sul
tem sempre festa funk-samba pela cidade
te vejo lá, eu tô em cima, eu tô no clima
Danço, canto , pulo , eu nao posso parar
nenhum segundo
nem dois, nem tres pra respirar
Me jogo noite adentro, atravessando o tempo
Eu quero mais
Dançar, amar, viver em paz
Nao quero nem saber o que nao pode rolar
a vida é festa
o meu destino é desafio
nada é impossivel, tudo pode mudar
quero da vida
o que a vida tem pra apresentar
no morro , na boate, condominio-favela
da zona norte `a zona sul
tem sempre festa funk- samba pela cidade
te vejo lá, eu tô em cima, eu to no clima
Eu vou
andar por aí
vou ver o movimento, a cidade ao luar
eu sei
eu vou descobrir
no meio dessa festa um amor pra ficar
São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo, São Paulo, São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo – SP
Sangue Amor e Poder
Cidade, santidade urbana
intensidade humana
dispersão -concentração
de tudo que se anula reforçando a afirmação de vida- ebulição
Vida – ebulição.
Sao Paulo / SP – Sangue, Amor, Poder
Sao Paulo / SP – Sussurro Pornô
Sucesso Pesado- Suave Pressão
Sao Paulo / SP – Sampa o que?
Sampartida, Samputada, Samporrada, Sampilhada
Sampartida, Samputada, Samporrada, Sampilhada
Sampartida, Samputada, Samporrada, Sampilhada
Sampartida, Sampa o que?
Chama pra si toda a responsa de ser
a maior cidade desse país…
Mega-cidade da America do Sul
Parente urbana de um clube de cidades gigantescas
Priminhas entre si totalmente poluidas
com excessiva humanidade.
E tome Nova Delhi, Calcutá com Nova Iorque,
Lagos, Londres, Moscou de Hong Kong,
Toquio, Mexico-Xangai
Toquio, Mexico-Xangai
No umbigo tropical
do atlas nacional
um santo desgarrado industrial
explode-implode
tudo que é cliche
no país do carnaval.
São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo, São Paulo, São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo – SP
São Paulo – SP
Sangue Amor e Poder
No eterno cinema da visão paulista
tá tudo engarrafado como cão engabelado
pela chinfra da inocência fulminante do olhar que vê Sao Paulo
com a força da palavra MUITO
com a força da palavra TUDO
com a força da palavra URBANO
com a força da palavra HUMANO
Na contramão da violencia
um amador cinegrafista tão singelo
só registra o que é paz,
o que é carinho,
o que é sincero,
o que é pacato,
o que é oasis
na cidade sitiada pela força negativa social.
Passando pelo Minhocão
atravessando o brega-runner de edificios paredão…
E a criança tá olhando o Tietê.
E a velhinha tá cantando na Paulista.
E o velhinho tá chorando no Anhangabaú.
E o mendigo tá dançando na Consolação.
No umbigo tropical
do atlas nacional
um santo desgarrado industrial
explode-implode
tudo que é cliche
no país do carnaval.
São Paulo – SP…
A tua periferia aperta o cinto da respiração social
Sao Paulo tem pra todo mundo mas não tem pra ninguem
Toda Noite
Todo Dia
Toda Noite
Algum Namoro
Algum Trabalho
Alguma Festa
Desafia esse colapso feroz em SP mandando ver
Colapso feroz em SP mandando ver
Misturação de qualquer tribo
Misturada no Prazer de Outra Gangue
Misturada no Prazer de Outra Turma
Misturada no Prazer de Todo Gueto
Migração misturação em SP
Sangue, Amor e Poder
No umbigo tropical
do atlas nacional
um santo desgarrado industrial
explode-implode
tudo que é cliche
no país do carnaval.
Meu endereço é voce
meu cep é o seu
seu site sou eu
Navegar pelo seu corpo é como andar pela cidade
tem pontes, tem luzes, tem overdrives…
lugares prediletos entre becos e esquinas
lugares escondidos onde só eu sei (chegar)
Arquitetura de acidentes geograficos
fontes da saudade que ainda vamos ter
uma historia tão especial
quanto outra qualquer
Meu sangue transita engarrafado lentamente
pelas veias e avenidas , entre as mais estreitas vias
cavalos de força bebendo gasolina
perdidos, querendo chegar ao final
será agora ou espero um sinal…
me perco no seu corpo
me perco no seu corpo
me perco no seu corpo
me acho no seu corpo
meu endereço é voce
meu cep é o seu
seu site sou eu
cortina de fumaça, ponto de fuga
sol de meio-dia,coração central
do Brasil ate a Lua seu corpo é minha rua
minha necessidade mais basica e radical
Cidade, bairro,rua,esquina, cep, logradouro
area de lazer, ilha do tesouro
me dá o que eu mereço,mudei meu endereço
pra dentro do seu corpo
Sou urbano canibal
feito de carne e aço
semente e bagaço
plantado no asfalto
no meio de tudo
Sou urbano canibal
pele couro de cobra
olhos duros de vidro
corpo todo partido
tudo breu, tudo escuro
Sou urbano canibal
sou do bem, sou do mal
sou excesso total
selvagem racional
eu tô pixado no muro
Sou ³Peri² da Periferia
Sou ³Ceci² do Borel
Sou da Selva de Pedra
Sou do Arranha-Céu
Sou Babel
Sou urbano canibal
Eu devoro, eu mastigo
esse corpo cidade
de vaga identidade
me tornando o que sou
Sou urbano canibal
sou o samba no morro
sou a bala perdida
a voz da torcida
a trave e o gol
Sou urbano canibal
esse é meu alimento
becos, ruas, esquinas
carros,pontes, vitrines
sou geleia geral
Toda cidade não dá trégua
chega mais e realiza
todo o tipo de conflito que anima o ser humano
Toda a cidade é camuflagem
a mais perfeita paisagem
do comércio pros negócios da eterna bandidagem
Toda cidade é uma selva
e a fauna humana se renova incessante
nessa Arca de Noé mutante
Toda cidade é um matadouro
meio açougue, não tem jeito
a humanidade ainda tá crua, essa carne não é sua?
Toda a cidade é um coliseu,
onde os humanos são jogados uns nos outros
numa festa de batalha pela vida.
Toda cidade é uma vampira
sorrateira insinuante
suga o corpo, a alma, o sangue de quem for seu habitante
Não tem Santo, Ave-Maria ou Divindade
A megalópole é a maxima entidade
Pede licença e beija a mão de sua majestade
Escancara humanidade
Megalópole-cidade
Vou subindo no terraço
Vou subindo pelo morro
Vou passando, batucando
Cutucando com suingue
O corpo inteiro da cidade
que tá nua
No compasso do que rola
pela alma da cidade
que é a rua
A minha vida
A tua vida
Fragmento a deriva
Nessa bomba de ocorrências
que é a vida na cidade
Onde as pessoas são vetores obscenos da urgência
do que a gente nunca sabe muito bem
o que acontece no coração da multidão
Toda cidade é uma demência
de excesso concentrado.
guia-rex misturado, mapa-mundi acelerado
Toda a cidade é um labirinto,
esconderijo, encruzilhada
de ninguem com todo mundo, pode tudo, fica nada
Toda cidade é um monumento
uma esfinge esquartejada
sua alma coletiva nunca vai ser decifrada
Toda cidade é catedral
pra toda reza industrial
fé na ciencia, Deus é pai, já tá clonado… paciência
Toda cidade se alimenta
de qualquer interferencia
sua volupia alucinada é parabolica excelência
Toda cidade é kichnet
celular-tv-satelite
tá tudo muito perto na genetica internet
Beijos, abraços, beira-mar
suburbio distante ao luar
taxi, chuva no olhar
cada esquina, love again
Todos os lugares pra te namorar
cinema, romance de rua no bar
cheguei na cidade vou te encontrar
Pra sempre com voce eu vou ficar
Toda cidade
é paisagem
pro nosso amor
filme de amor
super-amor
Vou passeando
te procurando
quero voce
amo voce
sou de voce
Terraço vazio, perto do céu
na boca do caos o amor é mel
neblina na saia, estranho véu
cada esquina, love again
Detalhes de rua me fazem sonhar
lembrando nos dois me deixo levar
toda cidade, paisagem pra amar
Pra sempre com voce eu vou ficar
Feelings are feelings
and I love you baby, forever and ever
Num imenso outdoor
Adão e Eva
Cidade arrogante, amor rascante
Bonnie and Clyde a todo o instante
feelings are feelings and I need you
forever and ever
Cidade.
Entidade Urbana.
Cidades. Cidades. Cidades.
Viver nas cidades.
Falar de viver nas cidades.
A grande invenção do homem.
Nascem planejadas. Brotam espontâneas.
Crescem desenfreadas. Desorientadas.
Desobedientes.
Crescem e crescem.
Nunca param.
De crescer.
Cidades.
Nunca morrem.
São mutantes. São vampiras.
Cidades vampiras. Vidas vampiras. Sanguessugas.
Imagem e semelhança dos seus hóspedes-humanos.
Mudam de cara, de forma, de jeito, de fisionomia.
Algumas guardam traços de seus antepassados, de sua memória, de sua história. Outras não.
Vivem várias vidas.
Vidas vampiras.
São imortais.
Cidades. Cidades. Cidades.
Falar das cidades.
Viver de falar das cidades.
São a fonte. A ponte. O mote. A inspiração.
O que foi,
O que é,
E o que será a geografia do mundo, o espaço de tudo, o lugar de todos.
O lugar de toda a realidade e vertigem humanas.
Falo da natureza urbana-humana.
Um corpo urbano. Vivo. Um corpo cidade. Dissecado. Retalhado. Partido.
De pedra e osso, carne e aço, semente e bagaço.
Suas vias, seus canais, seus órgãos vitais.
Seus músculos, seus nódulos, seus desejos banais.
Seu sistema circulatório. Seu sangue coagulado. Seu trânsito engarrafado.
Seu tecido urbano, sua pele de concreto armado.
Falo do sentimento de cidade humana, corpo urbano, tatuado, planejado, monitorado, viciado,
aerofotogrametrado, radiografado, encurralado.
Bio-degradável. Bio-degradante.
Falo da natureza humana-urbana.
Do ser urbano.
Filhos de pai, de mãe e de cidade.
Irmãos de sangue-cidade.
Irmãos de sentimento-cidade, espalhados por aí.
Falo da relação simbiótica, quase biológica entre indivíduo e cidade.
Da natureza humana-urbana atual.
Desse sentimento universal.
Desse movimento geral.
Só meu.
Só seu.
Sensação-sentimento de contraste e auto-contraste, foco e fora de foco.
Sensação-sentimento de estar integrado e excluído. Junto e sozinho.
Falo de solidão povoada.
Povoada de muitos milhões de habitantes, de carros, de fios, de prédios, de postes, de antenas, de grades, de miséria, de beleza, de possibilidades e falta de oportunidades.
Falo de um cenário de hiperinflação humana, de acúmulo humano, de excesso urbano. De aglomeração, de multidão, de solidão, de televisão, de muita informação e sala vazia.
De frente pra tela, infinita janela.
Falo de solidão navegada.
Falo da minha rua, da minha tribo, da minha língua, das gírias, esquinas, vitrines.
Falo da sua área, do seu lugar, de outras línguas, de outras paradas.
Falo de S.P., do Rio, de N.Y., Londres, Calcutá, Cidade do México, Tóquio, Nova Delhi, Bombaim, Buenos Aires, Pequim, Paris, Osaka, Jacarta, L.A., Seul, Xangai…
Uma fila de cidades nas estatísticas das maiores do mundo.
Priminhas entre si, totalmente poluídas com excessiva humanidade.
Falo do alto de um prédio, do meio da fila.
Do elevador, daquela esquina.
De dentro do carro. Do meio da rua. De dentro de um bar.
Falo de fora do que é aceito. De dentro do contexto.
Falo de sentimentos alheios. De amores desfeitos.
Falo da cidade tropical, solar, praiosa, suada, miscigenada, verde e amarela.
Brasileira. Inventada, copiada, carente, parente, doente, sem dente.
Someplace,
Sun city
Somewhere,
Here.
Rio.
Sou cidade tropical.
Sou urbano canibal.
Onde o sol brilha mais forte.
Onde se acredita na sorte.
Até que a morte nos separe.
Da janela, vejo a cidade aberta.
Infinita visão.
Até onde a vista alcança.
Até onde o homem aguenta…
Segue aqui um dos melhores discos lançados no Brasil nos últimos anos.
Conforme vocês vão descobrir, a energia está sempre presente em todas as faixas. Este CD é extremamente dinâmico e “uplifting”, com arranjos e produção avançadíssimas. Ele passa por estilos que vão desde o hip hop ao samba, além do funk e dance, entre outros. Tem até balada. E com os vocais sempre fortes e seguros da Fernanda, vocês podem se prevenir para uma “trip” inesperada. Garantida! Seria impossível falar de cada faixa individualmente, mas vão aqui alguns destaques:
“Eu Quero Sol”, música de super bom gosto! Especialmente as contra-linhas de sintetizador em portamento (glissando). A guitarra acústica deu um sabor “caseiro” bem despretensioso.
“Baile da Pesada”, para não ficar atrás, usa os sons da antiga (mas sempre moderna) bateria eletrônica Roland TR-88 (famosíssima pelos seus sons bem únicos e inovadores para a época em que surgiu), além de uma coleção de efeitos interessantíssimos, usados na hora e no lugar certos…
“Fatos e Fotos”, com linha de baixo à la Stevie Wonder (nos “choruses”) e guitarra “rasqueada” e muitos outros efeitos e climas que dão a essa faixa o status de uma das melhores do disco.
“Meu CEP é o seu”, com um “pattern” harmônico da pesada (definido pelo violão), dando um sabor misterioso, até a linha “bluesy” do Fender Rhodes que se repete exatamente onde deveria. Sem falar nas harmonias paralelas “independentes” do sintetizador. Uma delícia!
“Urbano Canibal”, interessantíssima! Estão de parabéns Fernanda e Lenine pelo trabalho. Ela leva um clima propositalmente tenso o que coloca esta faixa bem no centro do conceito do disco. A batida ficou ótima e definiu muito bem a imagem desejada. Aliás, quase todas as músicas circulam fielmente ao redor do tema escolhido e definido pelo título (Entidade Urbana), o que ajuda a reforçar a continuidade do disco.
Fico muito satisfeito quando vejo um trabalho bem feito como esse. Desde a produção até o desempenho dos músicos (todos de altíssima qualidade). Trabalho impecável. Destaque especial ao tecladista (talvez porque eu também toque teclados…) que em certos trechos me traz felizes lembranças do meu próprio estilo (“Meu CEP é o seu”, por exemplo). Menção especial ao Liminha, que além de produção também participou extensivamente como músico. Estão todos de parabéns.
Também gostei muito da idéia de terem utilizados sons caseiros, principalmente nas partes de percussão (amolador de facas, prato, fósforo etc.). Sons que foram mixados bem sutilmente “dentro” das outras sonoridades principais. Bem maneiro.
Enfim, como já tinha dito antes, o clima geral do disco define muitíssimo bem seu título. Desde as linhas do baixo (muito bem desenhadas e executadas) até às harmonias dos vocais (com momentos bem inovadores), todos os recursos foram utilizados e todos muito “sneaky”. A Fernanda é uma felizarda. Acertou mais uma vez. Aliás, eu sou fanzoca já há algum tempo atrás. Agora então, fiquei mais ainda… Divirtam-se!
Eumir Deodato
Piermont, Nova Iorque
Entidade Urbana tem uma pré-história de risco que é a seguinte: recentemente, isto é, nas últimas duas décadas, para a surpresa e vergonha dos cariocas, o Rio de Janeiro passou a ser conhecido como uma Cidade Partida. De um lado, a Zona Sul, os ricos, os condomínios e os shopping centers e os cinemas multiplex da Barra. Do outro lado, a Zona Norte, a pobreza, os subúrbios, as favelas, os bailes funk. Entre um lado e outro, na fronteira, apenas o medo, a ignorância, a violência, o comércio de armas e drogas.
Durante todo esse tempo de Cidade Partida, ouvi centenas de vezes a afirmação de que o número de assassinatos no Rio era maior do que aquele dos piores tempos de Beirute em guerra. Não fui conferir as estatísticas. Nem desconfio delas. Mas sei que toda essa descrição da “nossa” guerra civil tem a força de um mito, um mito tão poderoso como aquele que antigamente alimentava a imaginação do mundo, do Brasil e dos próprios cariocas, quando acreditávamos viver na Cidade Maravilhosa, a cidade da miscigenação, da mistura, da alegria carnavalesca constante.
Não devemos estabelecer com os mitos a mesma relação que temos com a verdade, ou com a mentira. Mas não falo nada de novo ao dizer que mitos não devem ser confundidos com a realidade. A idéia de que hoje vivemos numa Cidade Partida não deve nos iludir: a cidade não é, nunca foi e nunca vai ser – totalmente – partida. Ao contrário do que dizem as versões mais radicais do mito, as duas “zonas” nunca estiveram totalmente separadas.
Apesar das aparências, e das notícias de jornal, um vigor cultural e social constante – sempre renovado – manteve vivo e resistente o que existe nesta cidade de “maravilhoso”.
“Durante muito tempo ouvi falar
De cidade repartida, guetos, apartheid, velhas
Não me venha com esse papo, nem pensar
Eu tô falando mais a frente, o que pode ser
O que vai ser, o que virá”
Fernanda Abreu inventou sua carreira e sua música ao mesmo tempo em que a cidade “se partia”. Poderia – apavorada como nós estávamos e ainda estamos – ter “partido” também sua arte, por trás de barricadas estéticas/policiais. Porém escolheu desafiar o novo mito, estabelecendo pontes e mediações onde não “deveria” haver nenhum contato, nenhuma “contaminação”: entre o funk de favela e o rock do playboy; entre o samba do morro e o drum’n’bass/bossa de butique; entre o charme da periferia e a dance music da boate high-society. Cada um de seus discos era também um manifesto anti-apartheid cultural, uma festa produzida nas regiões onde as “Zonas” se encontram, um boderhack, uma demonstração que poderia ser filiada ao movimento “kein mensch ist illegal” (“ninguém é ilegal”), acampamentos artísticos realizados em fronteiras “problemáticas” de países de todo mundo.
Os cariocas compraram essa briga. Tanto que em recente concurso, com urnas colocadas nas ruas, para se escolher qual a música que mais tinha a cara da cidade, “Rio 40 Graus”, hino de uma urbanidade mutante (pós-partida e pós-maravilha) cantado por Fernanda Abreu, quase venceu todas as bossas novas reconhecidas mundialmente e o próprio hino do carnaval da cidade, o tal Cidade Maravilhosa. Era um sinal evidente de que os habitantes do Rio conseguiam, junto com Fernanda Abreu, distinguir criatividade cultural e força vital onde os apóstolos do apocalipse urbano só enxergavam caos estéril e mais problemas.
Entidade Urbana é a seqüência lógica do combate “carioca”. Fernanda Abreu e todos nós sabemos que a situação (partida ou maravilhosa) do Rio não é única ou absolutamente original, mas sim a situação-limite de uma “condição social” que se tornou planetária. Não importa onde estamos. São Paulo; Los Angeles; Lagos; Xangai; Jacarta; Moscou: toda grande cidade é um pouco – na verdade é muito – “Rio 40 Graus”.
E como não se cansa de dizer o arquiteto e pensador Rem Koolhaas, o vigor urbano (para pior e para melhor) é uma evidência que triunfou contra todas as previsões pessimistas e tentativas de controle propostas por urbanistas das mais variadas escolas. Em Entidade Urbana, Fernanda Abreu canta os territórios “da beleza e do caos” da nova mega-urbanidade global. Seu disco não é apenas um outro manifesto, mas funciona como um manual de sobrevivência, ou de boas maneiras, para se tirar o melhor partido da vida em nossas temidas e amadas grandes cidades.
“Tudo é cidade
É tudo igual
Em qualquer língua
Isso é geral”
Pois não há evidências de uma nova tecnologia social que venha superar o urbano e sua “parabólica excelência”. As sugestões de que a globalização e a Internet viriam criar um éden pós-geográfico que dispensaria os problemas das cidades (e todo mundo poderia fazer tudo online, mesmo isolado no meio do mato…) já se mostram pouco convincentes.
Pois qualquer rede precisa de nó. Quanto maior e mais vibrante o nó, melhor. O nó privilegiado da Internet parece não ser a nação, velha instituição da velha economia. Todos os sinais eletrônicos indicam um fortalecimento de grandes cidades (até o Vale do Silício precisa de San Francisco) como “campos” inconfundíveis para trocas de todas as espécies. O nó virtual não pode dispensar o nó real da urbanidade.
“A Terra inteira são cidades e cidades se alastrando
Sobem morro, descem vale, comem terra, bebem mar”
Na música, a distribuição global das mesmas informações digitais também convive com a confirmação das cidades como “sites” privilegiados de criação. A maior parte dos estilos que fazem sucesso via napster teve origem nas ruas, palcos e locais de ensaio de cidades bem determinadas. Para citar alguns exemplos: a música techno teve origem em Detroit; a house teve origem em Chicago; o hip hop (incluindo o rap) teve origem em Nova York (mais especificamente no bairro do Bronx); o dub em Kingston; o jungle em Londres; o rai em Oran; a juju em Lagos…
“Toda a Terra inteira quer
Balançar”
O nascimento e o desenvolvimento de todas essas músicas têm conexões profundas e evidentes com a dinâmica da vida social e cultural de suas cidades de origem. Muitas vezes as suas letras (como as que canta Fernanda Abreu) abordam explicitamente assuntos do cotidiano urbano que as gerou, tornando-as parte integrante da invenção sempre renovada de suas identidades culturais mutantes.
Os jovens do Recife se orgulham do Mangue Beat; os jovens de Seattle se orgulham de viver na mesma cidade que criou o grunge (mesmo o Mangue Beat e o grunge sendo tão críticos dessas realidades urbanas); e assim por diante.
A especificidade local não impede que os vários estilos sejam adotados por músicos de outros lugares (com realidades urbanas completamente diferentes). Contudo, a cidade que inventou cada estilo continuará sempre a ser reverenciada como um centro quase mítico de “origem” ou de “autenticidade”, gerando até mesmo “peregrinações” de gente de todo mundo para as suas ruas, como a de jazzistas para Nova Orleans ou a de amantes de tango para Buenos Aires.
Não custa nada repetir: é interessante notar a permanência, com seus fortes laços emocionais, dessa marca local dos estilos musicais dentro de uma indústria fonográfica ou pós-fonográfica totalmente globalizada. O “local”, no mundo “global”, confunde-se com o urbano. E os estilos musicais mais globais parecem ser aqueles mais abertos para dialogar com complexas e variadas realidades urbanas, gerando uma quantidade infindável de subestilos ou de fusões.
O rap do Bronx nova-iorquino, por exemplo, ganhou características também bem marcantes e específicas ao ser adotado por músicos de outras cidades: há o rap de Miami (conhecido como Miami Bass, e cujo estilo já é copiado em muitas cidades do mundo, incluindo o Rio – como reafirma a faixa “Baile da Pesada” deste CD); há o rap de Los Angeles; há o rap de São Paulo; há o rap de Maputo. Assim como há a house de Milão, a house de Frankfurt, a garage de Nova York, e tantas outras variações.
Os MCs de UK garage celebram a cidade que criou esse estilo musical gritando para o público: “It’s a London Thing!” Que Coisa é essa? (Em outras palavras: qual a força sedutora de Londres – ou de qualquer outra cidade?) Em Entidade Urbana, Fernanda Abreu dá parte da resposta (para mistérios como esse não é recomendável dar a resposta completa), a começar pelo título do disco. A cidade é uma entidade que possui quem vive nela e que deixa suas marcas em tudo o que nela for criado.
“Toda cidade é uma vampira
Sorrateira insinuante
Suga o corpo, a alma, o sangue de quem for seu habitante”
Mas não é uma marca totalitária, que apaga todas as outras marcas, que retira todas as outras energias. Até porque toda cidade sabe, e toda música urbana sabe, que sua própria existência correria perigo se suas ruas e ritmos não fossem também locais de encontro, encruzilhadas de muitas marcas e vibrações e estilos de vida e visões de mundo. A UK garage não existiria se não houvesse em Londres, entre outras coisas, uma vibrante cultura musical criada por imigrantes jamaicanos, que por sua vez não teriam participado da criação da UK garage se tivessem permanecido em Kingston (em Kingston, criariam outras músicas).
“Misturação de qualquer tribo
Misturada no prazer de outra gangue
Misturada no prazer de outra turma
Misturada no prazer de todo gueto”
Então todas as grandes cidades contemporâneas estão ligadas em rede, para além da Internet. Não dá para separar as Coisas de cada uma delas: suas Entidades convivem entre si, negociam, guerreiam, namoram, como fazem os deuses gregos ou os orixás do candomblé. Todas essas Coisas são parte de uma outra Coisa, uma mentalidade/corporeidade (pois a Entidade possui corpos e mentes) compartilhadas por todos os seres urbanos.
“Isso é a vida
É a natureza humana
Não tem saída
É a natureza urbana”
Entidade Urbana é a trilha sonora samba/funk de uma cidade transformada em prótese (portanto mais do que uma pele ou uma roupa), extensão de nossos corpos/mentes, nossa segunda natureza coletiva e local/global. Uma segunda natureza ao mesmo tempo assustadora e sedutora. A humanidade urbana é uma “excessiva humanidade”, um “colapso feroz”, fonte de “vida-ebulição”. Sendo assim, Entidade Urbana é antes de tudo a celebração da dança que se pode dançar à beira do abismo de um desastre urbano sempre anunciado e alegremente sempre adiado.
PRODUZIDO POR Liminha e Chico Neves Concepção geral Fernanda Abreu DireçÃo Artistica Torcuato Mariano Faixas 1 2 3 4 5 6 7 8 produzidas por Liminha Faixas 9 10 11 produzidas por Chico Neves Produção de voz e vocais Felipe Abreu Arranjos das faixas produzidas por Liminha Liminha e Fernanda Abreu exceto faixa 8 por Rodrigo Campello Arranjos das faixas produzidas por Chico Neves Chico Neves e Fernanda Abreu Arranjos de voz e vocais Fernanda Abreu e Felipe Abreu Coordenação de produção Jeronymo Machado FAIXAS PRODUZIDAS POR LIMINHA GRAVADAS NA UNIDADE MÓVEL NAS NUVENS Engenheiros de gravação Vitor Farias, Liminha e Florencia Saravia Assistente e engenheiro de gravaçoes adicionais Jorge Guerreiro Mixadas na Unidade Movel Nas Nuvens por Vitor Farias e Liminha Edição Digital Florencia Saravia Assessoria Técnica Paulo Henrique Lima Assistente de Mixagem Jorge Guerreiro e Leo De Faria Assistente de Produção Andrea Leblon FAIXAS PRODUZIDAS POR CHICO NEVES GRAVADAS NO ESTÚDIO 304 Engenheiro de gravação Chico Neves
Mixadas no Estudio Mega por Marcio Gama e Chico Neves exceto faixa 11 mixada no estudio 304 por Chico Neves Edição Digital Florencia Saravia Assistente de mixagem: Guttemberg / Eduardo Pop / Marco Sons e efeitos Berna Gravados e editados por Berna Ceppas no Estudio Monoaural/RJ Todas as letras por Fernanda Abreu exceto faixas 6, 7, 10 e 11 por Fernanda Abreu e Fausto Fawcett e faixa 8 por Fernanda Abreu e Rodrigo Campello e faixa 3 por Fernanda Abreu, Rodrigo Campello e Suely Mesquita Masterizado na Classic Master / SP por Carlos Freitas Assistentes de Master Jade e Flávia + Capa Luiz Stein Fotogafia Adriana Pittigliani Manipulação de imagens Victor Hugo Cecatto
Figurino Cláudia Kopke e Felipe Veloso Maquiagem/Cabelo Silvana Gurgel Camareiro Fernando de Jesus Assitente de fotografia Antonio Terra Assistente de figurino Pedro Sales Cristina Kler Coordenação Gráfica Adriana Trigona AGRADECIMENTOS: Liminha (mestre dos mestres!) ,Chico Neves (altos sons!), Berna (timbres maneiros!), Felipe (pela voz!), Gil, Donato e Jamil (que honra!), Memê, Fiuza, Aurelio, Bodão, Jovi, Suzano, Marçal, Ramiro, Fernandinho SP(beat-box), William Magalhães, DJ Hum, Cleston, Davi, Pedro Sá, Jorge Helder, Barone, Leo Massacre, Domenico, Marcos Lobato, Alexandre Vaz, Cecilia, Cezinha, Altair e Band. Rodrigo Campello, Rodrigo Maranhao, Fausto , Laufer, Lenine, Vidal, Liminha, Lucas, Suely e Marcelo Lobato (grandes parceiros). Florencia (flash-finger!), Andreinha, Vitor Farias, Paulo Lima, Jorge, Bel, Josi e todo o pessoal do Nas Nuvens. Marcio Gama e toda a galera do Mega. Carlinhos (magic master sound!), Torcuato, Aloysio, Oscar, Hari, Denise, Chico Ribeiro, Margaret, Bricio, Nunes e todo o pessoal da EMI. Jeronymo (“é isso aí companheiro!”), Lu e Evandro (beijos!). Lucia e Leandro (Big Boy), Jose Carlos Bateau (acervo Monsier Lima e Ademir),Carraro e Faculdade Carioca (pesquisa das fitas),Jane e Alessandro Yole, Fabio Fonseca, Ed Motta, Marcelo Lobato (vocoder e talk box), Herbert, Hermano, galera do Cambio Negro, Pavilhão 9, Doctor Mc¹s e Dj Hum e Thaide. Meu pai e minha mãe (pelo amor!). Severina (pela Alice e Sofia ). Todo o pessoal lá de casa (Margarida, Josimar, Oswaldo e Do Carmo). Toda rapaziada que curte meu som, e todo mundo que de alguma maneira participou da produção desse disco. DEDICO ESSE DISCO A ALICE (a mais nova garota carioca!), SOFIA (garota sangue bom!) e LUIZ (por tudo!)
A “Revista Entidade Urbana” reúne trabalhos cedidos por 49 artistas brasileiros ligados a diversas formas de expressão como artes gráficas, artes plásticas, música, poesia e grafite, entre outras, abordando o tema das grandes cidades. A revista é um projeto especial de Fernanda Abreu que acompanhou o lançamento de seu disco “Entidade Urbana”, em edição limitada.
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