Brasileiro
Brasileiro
Brasileiro segue em frente seu caminho é só um
Brasileiro segue em frente seu caminho é só um
Esse caminho é difícil mas traz a felicidade
Esse caminho é difícil mas traz a liberdade
Brasileiro
Brasileiro
Brasileiro segue em frente seu caminho é só um
Brasileiro segue em frente seu caminho é só um
Esse caminho é difícil mas traz a felicidade
Esse caminho é difícil mas traz a liberdade
Se você é branco isso não interessa a ninguém
Se você é mulato isso não interessa a ninguém
Se você é negro isso não interessa a ninguém
Mas o que interessa é sua vontade de fazer o Brasil melhor
Um Brasil verdadeiramente livre
Um Brasil Independente
Ê meu pobre kamba (amigo)
Labute e tenha fé na kianda (Yemanjá)
Ô meu kamba rico
Humanize a riqueza
Abomine a avareza
Ignore o modismo
Se liberte do consumismo
Ê N´Zambi aê (Deus)
Ê Kianda aê
Ê Luanda
Ê muxima aê (coraçao)
Brasileiro
Brasileiro
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas coisas bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas coisas bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelo inverno
Pelo sorriso
Pela primavera
Pela namorada
Pelo verão
Pelo céu azul
Pelo outono
Pela dignidade
Pelo verde lindo desse mar
Pelas coisas bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas coisas bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Eu vou torcer …
Pelas coisas uteis
Que voce pode se comprar com 10 reais
Pelo bem estar
Pela compreensão
Pela agricultura celeste
Pelo meu irmão
Pelo jardim da cidade
Pela sugestão
Pelo amigo que sofre do coração
Pelas coisas bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas coisas bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Om shanti, shanti shanti
Hari om
Eu vou torcer pela paz
Pelo amor, pela alegria, pelo sorriso
Eu vou torcer pela amizade, pelo ceu azul, pela dignidade
Eu vou torcer pela tolerancia, pela natureza, pelos meninos, pelas meninas
Por mim, por voce
Eu vou torcer
Quanto tempo tem
quanto ainda falta
quanto tempo pra jogar
Quantas fichas tem
De quanto é a aposta
quanto terço pra rezar
Como faz para viver assim na mira
como faz pra se soltar
Como faz para chegar na sua sexta-feira
não tem hora pra acordar
ZAZUÊ
ZAZUÁ
Oba , oba, oba Charles
Take it easy my brother Charles
Oba, oba, oba Charles
Take it easy meu irmao de cor
Zazuê quer ser uma espécie de Charles Anjo 45
O Robin Hood dos pobres
O rei da malandragem
Mas o tempo passou, o morro mudou
O asfalto mudou, a cidade mudou
E o futuro de Zazuê todo mundo conhece
O seu destino já esta escrito
Enquanto o mundo gira
Enquanto a vida passa
Enquanto tudo está no ar
Acordar do pesadelo numa Sexta-feira
Já não dá mais pra voltar
ZAZUÊ
ZAZUÁ
Bidolibido
libido, libido
só quero contigo
só fica comigo
te falo no ouvido
um lugar escondido
te faço um pedido
um segredo,um abrigo
Bidolibido
libido libido
eu sempre te digo
me pede que eu fico
me lança um feitiço
me mostra o caminho
que eu saio correndo perigo
Bidolibido
libido libido
eu vivo no estilo
de um filme do tipo
“cinema bandido”
no morro, no risco
na mira do tiro
no alvo do missil
Bidolibido
Libido, libido
voce é meu vicio
num dia dificil
só conto com isso
no hall do edificio
I miss you
Braço nos braços,
me abraça, me amassa,
me enlaça, me deixa
de quatro no ato,
me faça de gato e sapato,
amarra meus nervos de aço
num maço, num saco,
num frasco, num lapso
naquele abraço
Quando te vejo
seu beijo, desejo
só quero sossego
Só quero seu amor
Quando me vejo
no seu corpo inteiro
em abril, fevereiro
Só quero seu calor
Bidolibido
Libido, libido
Só quero contigo
Só fica comigo
Me pede que eu fico
Me mostra o caminho
Que eu saio correndo perigo
Bidolibido
Libido, libido
Eu sempre te digo
Voce é meu vicio
No morro, no risco
Na mira do tiro
No alvo do missil
Y miss you
Liga, me liga
me explica, me ensina
que o mapa da mina
tá no dia a dia
no verso, na rima
na dor, na alegria
no sol da avenida
se liga na minha
vê se não vacila
que eu sou sua menina
Quando te vejo
seu beijo, desejo
só quero sossego
Só quero seu amor
Quando me vejo
no seu corpo inteiro
Abril, fevereiro
Só quero seu calor
De noite na cama eu fico pensando
Se voce me ama e quando
Se voce me ama eu fico pensando
De noite na cama e quando…
A noite cai, vem a Lua
Brilha no alto do céu
La fora o Sol só espia
Não quer queimar esse véu
Lua Sol, Sol Lua
Giram num carrossel
Se há luar sou sua
Se ensolarar sou do céu
O dia vem, some a lua
Sol vem pro alto do céu
Espreguiçando seus raios
Tudo tocar com seu mel
Lua Sol, Sol lua
Giram num carrossel
Se há luar sou sua
Se ensolarar sou do céu
Eu sou do céu
Te ligo a noite pra contar uma história
Não foi comigo mas podia até ser
Eu vejo o filme aqui na minha memória
Assisto a cada cena acontecer
Dois personagens tão conhecidos
Quem é que não passou por algo assim ?
Dois namorados colados num love
Flutuam leves num azul sem fim
Começou numa sessão de cinema
A história até nem era nada de mais
E na seqüência teve um telefonema
Falando de coincidências astrais
Tantos planetas parecidos
E nada disso parecia em vão
Versos soprados bem junto ao ouvido
Era o inicio de uma nova paixão
A vida sempre tem as suas surpresas
E na verdade o que aconteceu
É que no dia a dia além das belezas
O que é defeito também apareceu
Um disse ao outro: Paciência
Tenho desejos diferentes dos seus
Juntos buscamos a justa ciência
De não dizer ao outro um simples adeus
Não vá, não vá, não vá
Não vá, não vá
Dizer adeus
No centro da luxúria mundo-cão, dessa cidade sucatinha balneária
Totalmente faveluda e suburbosa,
A classe média emergente cafonuda é totalmente sacudida por pobreza, putaria e bandidagem de insolência detergente,
Desafiando o social com violência bem lasciva provocando
A tradição de sapiência divertida
E a minha , a sua, a nossa boêmia
Encara essa parada e senta a pua
Absorvendo e transformando o dark-side dessa lua
Em sol intenso coração de chapa quente
Sol intenso coração de chapa quente
Chapa quente meu irmão
Do centro da luxuria mundo-cão do zôo humano carioca insolarado
Surge a padroeira debochada da delícia imaculada,
Da risada escancarada, dançarina arrebatada
Abençoando toda a força de prazer
Na nossa luta pra viver
Cheio de marra
Não tem pra Jesus Cristo
Não tem pra ninguém
E São Sebastião ?
Não tem pra ninguém
Padroeira Debochada
Não tem pra Jesus Cristo
Não tem pra ninguém
E São Sebastião ?
Não tem pra ninguém
quem me guia na alegria e na agonia dessa vida
é a padroeira da delícia imaculada
vem, me abençoar
dançarina arrebatada
vem me abençoar
gargalhada escancarada
vem me abençoar
Padroeira debochada
Vem, vem, vem me abençoar
Fecha o corpo e sente o sangue da cidade em transe
Transe de vitória humana
Transe de derrota humana
Na festa incrementada dessa selva urbana
Porque o que é bélico hoje em dia vira gíria pomba-gira
Tá bombando, Tá bombando
Tá bombando, Tá bombando
Tá bombando, Tá bombando, Tá bombando
E a majestade debochada vai tá sempre de passagem pra outra laje de ruina futurista
Numa dança rebolada e incessante bem marcada na batida eternidade
Funk nos lábios do samba, no beijo da briga, pandemônio na cidade
“Vestiu a micro-saia espelhada e saiu por ai”
O mundo tá na pista e a Padroeira debochada tá sacudindo a multidão
Não tem pra Jesus Cristo
Não tem pra ninguém
E São Sebastião ?
Não tem pra ninguém
Padroeira Debochada
Não tem pra Jesus Cristo
Não tem pra ninguém
E São Sebastião ?
Não tem pra ninguém
quem me guia na alegria e na agonia dessa vida
é a padroeira da delícia imaculada
vem, me abençoar
dançarina arrebatada
vem me abençoar
gargalhada escancarada
vem me abençoar
Padroeira debochada
Vem, vem, vem me abençoar
Ele nasceu na favela
Dizem poucas e boas de onde ele
É rei
To te convidando pra ver bem de perto
Barracos, vielas, inferno e céu
Com olhos abertos, de braços abertos
Coração aberto pros filhos de Deus
Nem bala perdida, nem papo trocado
A gente é do lado de cá e de lá
E aqui do meu lado um cara danado
Que é considerado e ele vai nos contar
Que onde ele vive
Não dá pra se ter uma vida de rei
Onde ele vive
Não dá pra se ter uma vida de rei
Ele nasceu na favela
Dizem poucas e boas de onde ele
É rei
Nasceu condenado brigou com diabo
Cresceu firme e forte, se fez respeitar
Não forma no bonde , não corre dos “home”
Por essas e outras é o rei do lugar
Você que duvida, tem tudo na vida
Não sabe a verdade e nem quer saber
Que o mal da cidade não tá nos barracos
E o rei sem reinado mostrou pra você
Que onde ele vive
Não dá pra se ter uma vida de rei
Onde ele vive
Não dá pra se ter uma vida de rei
Alo, alo comunidade !
Alo, alo toda cidade !
To te convidando pra ver bem de perto
Barracos, vielas, inferno e céu
Olhos abertos, braços abertos
Coração aberto para todos os filhos de Deus
Nem bala perdida, nem papo trocado
A gente é do lado de cá e de lá
E aqui do meu lado um cara danado
Que é considerado e ele vai nos contar
” Que eu nasci condenado, briguei com diabo
Cresci na responsa, me fiz respeitar
Não formo no bonde , não corro dos “home”
Por essas e outras sou rei do lugar
Você que duvida, tem tudo na vida
Não sabe a verdade e nem quer saber
Que o mal da cidade não tá nos barracos
E eu com a Fernanda mostrei pra voce”
Ele nasceu na favela
Dizem poucas e boas de onde ele
É rei
Quando sair, trancar a porta e o portão
Pedir a Ogun que me acompanhe nesse dia
Olhar pra mão, pra contramão
Pra toda a direção, ver se tá vento ou calmaria
O pé direito vai na frente então me movo
Aperto o passo enquanto estudo o ambiente
Observar, do meu radar
O cérebro gelado enquanto o corpo segue quente
O meu olhar esquadrinhando a selva urbana
O coração de quem não come há uma semana
Vou devagar, vou me cuidar
Trancar na jaula a fera humana
Olha o bicho, olha a onça
Corre se ela te atacar
Corre cego, segue em frente
Não deixa ela te pegar
Follow me, follow me…
De noite a luz intensa dos meus olhos faróis
E de repente lá no céu uma estrela brilha
Como um sinal, como um punhal
Cortando meu caminho, iluminando o que eu não via
Basta viver pra entrar num jogo perigoso
Basta o instante da fagulha para o fogo
Vou desarmar meu coração
fugir de toda a confusão
Olha o bicho, olha a onça
Corre se ela te atacar
Corre cego, segue em frente
Não deixa ela te pegar
Jah
Rastafary
Selassié (?)
Sei lá quem tá lá
Quem tiver lá pois que venha me ajudar
Khrishna, Buda, Jesus ou Alah
Peace to Alah, Selassié (?)
Rude boy
The first from Niteroi
Original the rude boy style
Mergulha comigo, mergulha comigo
Esse é mais um dia de frente pro sinal vermelho
Eu olho no espelho e o que eu posso ver?
Quem pode me ver?
A cidade tá botando Black Alien no stress
Filho da puta não me teste
Eu continuo o gatilho mais rapido do oeste
E Jorge de Capadocia me empresta as vestes
Mas não me teste
Eu continuo o gatilho mais rapido do oeste
E Jorge me empresta as vestes
O meu olhar esquadrinhando a selva urbana
O coração de quem não come ha uma semana
Vou desarmar a minha mão
Fugir de toda a confusão
Make a move…
Olha o bicho, olha a onça…
Sou brasileiro,
tô numa boa
Meu sorriso é meu dinheiro
Sou poeta e nasci no Rio de janeiro
Sou maneiro e não devo nada a ninguém
Gosto de samba, futebol, cinema, teatro e boite
Sempre me dou bem, não sou tati-bitati
Tô sempre aí, meu negocio é curtir som
Mas tô sabendo que tem gente aí pisando na bola
Com marra de bamba, jogando conversa fora
Esperando um dia acertar no bolão
Ziriguidum, telecoteco, balacobaco, borogodó, burugudum
Paticundum, pracatá, sabadá, badaiá, badaiá
Ziriguidum, telecoteco, balacobaco, brogorodó
Praticumbum, prapare, prapará
Quando eu não puder pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas não puderem aguentar
Levar meu corpo junto com meu samba
O meu anel de bamba entrego a quem mereça usar
Eu vou ficar
no meio do povo espiando
Minha escola perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despidir,
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar
A NOVIDADE DA FERNANDA
Depois de passear musicalmente por universos que iam da hedonista celebração “disco dance” ao sentimento na lata da exuberância social do samba-funk, passando pela crônica da influência de tecnologias de gravação nas mentes musicais e pelo poderoso caos das megalópoles, Fernanda Abreu chega com disco novo, novo disco, disco novo da Fernanda. NA PAZ é uma homenagem a todas as formas de valentia pacifista que desafiam o cerol insinuante que envolve a corda bamba da vida humana, essencialmente urbana na assim chamada atualidade. A partir do posto de observação Brasil-carioca, mas valendo pra qualquer concentração de megacidade internacional.
INSPIRAÇÃO UM – A PIRAÇÃO DA PAISAGEM SOCIAL
Gigantescas miserópolis-senzalas constituem o âmago urbano das megalópoles bregarunners do terceiro e quarto mundos. Sorrateiras miserópolis-senzalas constituem os guetos explosivos das megalópoles bladerunners do assim dito primeiro mundo.Nas primeiras, as elites opulentas vivem cercadas por fudidos na democracia. Nas segundas, as elites de fudidos explosivos vão cercando a opulência democrática. Gigantescas miserópolis-senzalas habitadas por todos os tipos de náufragos existenciais, revoltados fatais, encurralados em semi-escravidões de inércias, desesperos, vinganças. Batalhas por algum lugar ao sol ou por simples arrogância assassina, necessidade fundamentalista de sair na porrada em nome da indiferença em relação ao outro. A sombra de Mad Max paira sobre o planeta. Cerol insinuante envolve a corda bamba da vida humana em qualquer concentração urbana, principalmente nos países onde o verniz da civilização é ralo. Países tipo Brasil, também conhecido como o abismo que nunca chega. Paiol de vertigens, paraíso das crises crônicas.
INSPIRAÇÃO DOIS – O DIA-A-DIA DA SUPERAÇÃO HUMANA
NA PAZ canta a sobrevivência nesse ambiente de turbulência mundial, como um drible desconcertante desarmando, furando, num rompante de humor, luxúria, inteligência, criatividade empreendedora (ou simplesmente ira de atitude demente), a retranca claustrofóbica do atraso social, do atraso mental, do atraso social. O choque dos humanismos com as barbáries, dos egoísmos com as compaixões, das ferozes ignorâncias com as ferozes erudições, da meteorologia com os varais, das swats assistenciais com os contrabandos de vírus e as migrações de armas, das swats mercenárias com etnias desgarradas, dos sociopatas com os normopatas, dos governos com as máfias, das esperanças distraídas com os sarcásticos cinismos realistas. Esse choque é que gera a energia beligerante característica da humanidade contemporânea.
A CAPA – O ENCARTE
Energia beligerante que está brilhantemente traduzida na foto da capa (e nas outras que compõem o excelente encarte idealizado por Luiz Stein).Fernanda assumindo uma atitude de paradoxal arrogância bélica, defendendo os mais variados emblemas da humanidade em comunhão. Paradoxal arrogância bélica porque flores e não balas é que saem dos canos das armas, esses autênticos talismãs da urbanóia. Dentro do encarte, Fernanda transforma-se numa jornalística pinup do universo bélico-bandido-terrorista que há muito freqüenta nossas mentes. A encruzilhada da palavra e do sentimento Paz tá na capa do disco, tá no encarte do disco. A branca pomba da paz gira tonta com tanta solicitação por aí. Mais do que galinha de macumba, ela tá sendo usada como instrumento de despacho do mal-estar atual da civilização.
UM QUESITO PECULIAR – A PRODUÇÃO
E uma festa secreta? São vários casamentos diários rolando na surdina? É tudo isso e muito mais quando Fernanda começa a gravar um disco. Isso acontece porque o toque da sua produção não esta restrito à esco-lha-direcionamento dos elementos musicais, instrumentais etc, a serem utilizados. O charme que envolve os trabalhos vem da sua capacidade de juntar pessoas num congraçamento bacana em torno de suas idéias e intenções. Não é um grupo de três ou cinco curtindo um casulo criativo, é uma menina-pivô de idéias para letras e músicas, administrando o chega mais de competências inspiradas. Sapiência na escolha a dedo da rapaziada. E nesse disco não foi diferente, ainda mais sendo o primeiro trabalho gravado no seu próprio estúdio. Com o auxílio luxuoso de Rodrigo Campello, Fernanda botou pra quebrar, buscando novas trilhas sonoras, outros caminhos musicais, diferentes vôos instrumentais em relação a seus trabalhos anteriores. Não deu outra. Acertou no alvo da sonora mutação. Maravilhosa produção.
FERNANDA ABREU NA PAZ
Em plena guerra civil agora declarada na cidade partida, Fernanda Abreu estréia seu selo Garota Sangue Bom com um míssil pelo desarmamento dos espíritos, o CD Na paz. Nenhuma contradição em termos. Fernanda acredita que seria impossível tomar a palavra numa sociedade bélica, como a atual, sentada na posição de lótus. Daí as armas que alugou para o trabalho gráfico “guns & roses” de Luiz Stein na capa. “Precisamos pensar sobre essa energia de violência que todo ser humano tem e está cada vez mais fora de controle pessoal e social. Como ela está entranhada na nossa psiquê e como a gente faz para segurar nossa raiva”, questiona. A idéia de Na paz é passar uma mensagem positiva, mas sem pieguice. Ir ao encontro de nossos sentimentos atávicos, rebuscar nossa índole daí o violão sete cordas do produtor e parceiro Rodrigo Campello que alinhava o funk do disco, num “beat” desacelerado. “Os BPMs giram em torno de 88 a 106, o funk carioca entra na órbita de 128”, compara ela. “Nesse disco, o encontro entre o funk e o samba é mais estrutural do que rítmico. Subiu um degrau”, contabiliza, lembrando-se que a primeira fusão de que participou foi ainda na época da Blitz, quando a faixa “Eu me amo” era invadida por uma bateria de escola de samba.
“Acho que é meu disco mais português”, diverte-se a vascaína enfatizando a presença do 7 cordas (“o Rodrigo começou a tocar com a Beth Carvalho aos 17 anos”) e associações com a ex-colônia lusa, Angola, na faixa de abertura, “Brasileiro”. Trata-se de uma composição do angolano Teta Lando, que vive em Luanda. No original, o título era “Angolê”. “Ouvi essa música e achei que era a cara do Brasil com uma mensagem ingênua do inconsciente coletivo nacional”, descreve. Fernanda fez uma adaptação da letra e a melodia reiterativa foi calçada pelas cordas das “Bachianas brasileiras”, numa elegante e provocadora orquestração de Eumir Deodato sob regência de Jaques Morelenbaum. Fernanda chamou Martinho da Vila embaixador informal entre as culturas dos dois países para dar seu recado. Ele chegou com esse texto que eu achei incrível. Me remeteu aos meus tempos de luta estudantil”, brinca.
Outra presença básica no repertório é Jorge Ben Jor, de quem ela pinçou na inesgotável mina do clássico “A tábua de esmeralda” (1974) a obscura “Eu vou torcer”, que prega a paz. Fernanda fez algumas adaptações na letra com o consentimento do autor. Para generalizar a mensagem, trocou “moças bonitas” por “coisas bonitas”. E a alma cruzmaltina falou mais alto. “Eu disse a ele que não podia falar em torcer pelo Mengão”, ri. Completa a adaptação para a atmosfera do disco um arranjo com sitar e tablas, que confere um tom Gandhiano à torcida positiva da letra.
Já a levada inicial “benjoriana” do violão de Rodrigo em “Zazuê” (Fernanda/Rodrigo/Jr. Tostoi) motivou o convite ao homenageado que enfiou uns contracantos na faixa. “Queria falar do OECharles anjo 45´, o Robin Hood dos morros, mas transportar a situação para os dias atuais”, historia Fernanda. “Bidolibido” (Fernanda/Rodrigo/Jovi Joviniano) agudiza a sensação de que mesmo os relacionamentos amorosos podem estar submetidos à urgência da vida em tempo real. “Você é meu vício/ num dia difícil/ só conto com isso”, flagra a letra. E o processo de composição da música “pediu” uma inserção de “De noite na cama”, de Caetano Veloso. Em tecla próxima, a “balada básica” “2 namorados” (Fernanda/Pedro Luís/ Plínio Gomes) mistura cinema e romance. Na construção das imagens da letra, ela rebobinou o “travelling” do cineasta Jean-Luc Godard sobre o corpo de Brigitte Bardot no filme “O desprezo” e acrescentou um toque francês nos intermezzos cantados por seu irmão Felipe Abreu e a produtora Janaína Linhares. “Tenho uma inclinação para a crônica e eu fico querendo fazer coisas mais pessoais”, confessa ela. Na circular “Sol-lua” (Fernanda/ Rodrigo Campello/ Suely Mesquita), a intimidade vira familiar com a participação da filha caçula Alice, metade da dialética de opostos que forma com a irmã mais velha, Sofia.
Aberta por samba de surdo e pandeiro que se desenrola num funkão, “Padroeira debochada” (Fernanda/ Maurício Pacheco/Fausto Fawcett), outra anti-ode a Copacabana, nasceu das conversas semanais que costuma ter com o parceiro Fausto Fawcett (presente na faixa), onde concluiu que não há mais para quem rezar. “Não tem pra Jesus Cristo/ e São Sebastião?/ não tem pra ninguém”. “Vida de rei” (Fernanda/César Farias/Ivo Meirelles) exalta com a participação e parceria do próprio a figura do mangueirense Ivo Mereilles. “Ele nasceu e cresceu e se projetou na Mangueira. É um exemplo para mostrar que a favela não forma só reis do tráfico de drogas”, separa ela. Já “A onça” (Fernanda Abreu/Rodrigo Campello) decupa com minúcia poética o estado de tensão do animal urbano entre a jaula, o medo e a raiva. A voz da cantora é trabalhada eletronicamente num realce que configura o pano de fundo vibrante do disco, todo pautado no estúdio da cantora, o Pancadão. A utilização do “scratch” a partir de CDs foi possível graças ao equipamento CDJ-1000, da Pioneer, que ela adquiriu especialmente. “Todos os samples usados são de gravações do próprio disco”, detalha.
Na paz fecha com dois sambas. Um inédito, “Sou brasileiro” (Jovi Joviniano/Thomaz de Aquino), “uma versão menos ingênua do mesmo tema da faixa de abertura”, e o clássico “Não deixe o samba morrer” (Edson/Aloisio), sucesso de Alcione de 1975. “Esta música me passa um sentimento primitivo do que é o Brasil, um país hoje meio descaracterizado pela conjuntura internacional. É como fazer uma terapia por hipnose para recuperar essa essência perdida”, acredita. Entre a maturidade e a reflexão, os “grooves” e levadas inventivos do substancial Na paz sacodem o esqueleto, mas não deixam ninguém de cabeça oca.
Tárik de Souza, Julho/2004
NA PAZ Produzido por Fernanda Abreu e Rodrigo Campello exceto faixa 6, produzida por Fernanda Abreu, Rodrigo Campello e Plínio Gomes ‘Profeta’ e faixa 7 produzida por Fernanda Abreu, Rodrigo Campello e Maurício Pacheco Concepção e direção de produção Fernanda Abreu Arranjos de base Rodrigo Campello e Fernanda Abreu, exceto as faixas 6 por Plinio Gomes ‘Profeta’, Rodrigo Campello e Fernanda Abreu e 7 por Maurício Pacheco, Rodrigo Campello e Fernanda Abreu Produção de voz e vocais Felipe Abreu Arranjos vocais Fernanda Abreu e Felipe Abreu Produção executiva Janaína Linhares Gravado nos estúdios Bitnick (RJ), Nas Nuvens (RJ), YB (SP), Bid (SP), Pancadão (RJ) e Mega (RJ) entre outubro-2003 e fevereiro-2004 Técnicos de gravação Rodrigo Campello, Vítor Farias, Javier, Evaldo Luna, Cristian Eduardo, Florência Saravia, Ronaldo Lima; Márcio Gama e Lucas Marcier Assistentes de gravação Vítor Daniel, Lenza, Guthenberg, Marcelo Tapajós e Robinson Schweitzer Edição Pro-tools Florencia Saravia Mixado por Vítor Farias nos estúdios Nas Nuvens/RJ em março-2004 Assistentes de mixagem Marcelo Tapajós e Vítor Daniel Masterizado por Ricardo Garcia nos estúdios Magic Master/RJ Assistente de masterização Guilherme Calicchio + Capa LSD Projeto gráfico Luiz Stein Fotografia Jacques Dequeker Figurino Felipe Veloso/Claudia Kopke Maquiagem Fernando Torquatto Designers assistentes Darlan Carmo/Diogo Reis Assistentes de fotografia Fabiano Pedrollo/Mariana Molinos Assistente de maquiagem Ricardo Tavares Desenho Sofia Stein Cartão tridimensional 3 Design Ploter Rotative Color Produção foto Valéria Tannuri Agradecimento especial Marcelo Sebá Apoio Le Bon Café CONTATO PARA SHOWS: MPB Produções Artísticas: (21) 2294.7294/ 2239.7792 e-mail: fernandaabreu@mpbproduções.com.br AGRADECIMENTOS Meus pais, meus avós, Severina e todo o pessoal lá de casa; Felipe, Deodato, Memê, Liminha, Vitor Farias e todo o pessoal do Nas Nuvens, João Mario, Amaury e todo o pessoal da MPB, Beto Boaventura, Jorge Davidson, Hari, Amaury e todo o pessoal da EMI, Coelho Ribeiro, Omar Lopes, Bid, pessoal do YB/SP estúdio, Paulo Lima, Renatinho Luis, John Patrick, Luiz Stein e todo o pessoal do LSD estúdio, Ricardo Garcia e o pessoal do Magic Master, Felipe (Nação Zumbi), Frejat, Severo, Patricia Ferreira e pessoal dos 4, Denise Costa, Caldato, Marcelo H., Andrea Leblon, Fabio Fonseca, Jongui, Florencia, Junior Tostoi, Alexandre Vaz, Rose e Junior (Benjor), Lidia (Martinho), Marcia Alvarez, Roberta Sá, Suely Mesquita, Maria Bravo, Dinorá, Márcia Virginia, Betch Cleinman, Annabel Quinet, Regina Casé, Curumim, Dudu Marote, Xerxes, galera do Instituto/SP, Carlinhos Freitas, Emilio (3 Design), Omar (Rotative Color), Jonas (Hotel Unique), Remo e Augusto (Quanta), Alexandre e Renato (Music Mall), Edna (Universal Music), Ana Paula e Claudia (Sony Music), Fred (UBC), Sérgio Guerra, Irá (Maianga), Teta Lando, Chico Neves, Otto, Moniquinha e pessoal do Le Bon Café e a todas as pessoas que contribuiram para a realização desse projeto. Agradecimentos especiais aos músicos e artistas que deixaram impressos nesse disco seu talento e suas idéias.
Todo o meu amor e carinho a Sofia e Alice!