James Brown, Rolling Stones, Trio Elétrico, Festa de São João, bailes gigantescos e clubes suburbanos ou sobrados do Catete, Nazareth, Bachman Turner Overdrive, Michael Jackson, Wanderléa, Jovem Guarda, Centro Espírita, pontos de macumba, Sunshine Band, Bailes da Pesada, Big Boy, Cidinho Cambalhota, Ademir Ritmos de Boate, Titãs, Hip Hop, reggae, ghetoblaster, rumba, merengue, frevo, xaxado, samba, Escolas de Pagode, Bailes de Formatura, Heavy Metal, disco music, Dancing Days, twist, swing, charme, fox-trot, hully gully, charleston, valsa, tango, gafieira, Studio 54, Morro da Urca, forró, mulatas do Sargentelli, rock, funk, soul, new wave, rituais em toda a África, dança da chuva, coreografias indígenas por todo o planeta, Tim Maia, Malcon MacLaren, Carmem Miranda, Madonna, Isadora, Nureyev, Gudonov, Gene Kelly, Fred Astaire, Carlos Affonso, lambada, Jackson Five, Sex Pistols, punk and headbanger dance, Sly and Family Stone, Chic, Chacretes, go-gos, dançarinas do ventre, Lady Zu, Xuxa, Dzi Croquetes, New York Dolls, Carlota Jazz Portela, Nijinsky, Hippopotamus, Papagaio, Jean Paul Gaultier, êxtases religiosos, aeróbica, dança moderna, balé, patinação no gelo, nado sincronizado, ginástica rítmica, blocos baianos, blocos cariocas, marchas militares, danças folclóricas, Pet Shop Boys, Rap-pers Delight, Kraftwerk, Malboro, Haideé, Grahan, break, streap-tease, Elvis, festas ciganas, quintais, play-grounds, quadras, ginásios, pistas, passarelas, palcos, coberturas e chás dançantes, Paralamas, Barry White. Apenas uma avalanche de nomes de pessoas, lugares e tipos de música que tem a ver com o movimento corporal, delícia de movimento, delícia corporal. Música pra dançar, de Strauss a Madonna, sempre foi considerada coisa menor, mero Euforizante Pop pras massas infanto-juvenis ou boêmios dançantes em feral. Música pra dançar sempre foi considerada um blefe musical de teor kitsch. Algo menor, se comparado a tanta música séria instrumental (refinamento e pesquisa) clássica ou mesmo popular (letras engajadas em psicologismo ou politicismos). Coisa menor, vejam só. Mas vou deixar esse papo pra mentes e corpos mesquinhos e medíocres, porque o que nos interessa é que existem no geral duas instâncias da condição humana. A primeira tem a ver com nosso impulso civilizatório, vontade de organizar a natureza, as relações sociais, visando a um maior conforto existencial (senso crítico, cosnciência ética, cidadania, arte-ciência, tecnologia, afirmação do ego), tudo contribuindo pra ilusão de que a vida é refém desse impulso organizador.
A segunda é o contrário total que namora a primeira. A diluição do ego, o impulso transformador da destruição, da Ânsia Obscena de Transcendência Impossível via orgias, fascinações, abandonos corporais, prazeres absurdos. S.L.A. Radical Dance Disco Club (e qualquer dance music) vai fundo na segunda instância (pois segundo reza a lenda freudiana do mal-estar da civilização, nós, criaturas de impulsos hostis, vertigens éticas, ternuras carentes e Inteligência Técnica Emocionante somos devidamente domados pela consciência social e civilizatória e por isso Estamos Sempre Produzindo ou Sendo Perturbados por desejos de aniquilação, dissolução, sacrifício e evasão do ego. Sentimos como o corpo é pouco e como essa Dúvida Chamada Espírito tá encurralada nessa dimensão (cinco sentidos, carne, tempo e espaço). Esses desejos se manifestam em assaltos de demência festiva, vontade de se acabar de prazer, vontade de carnaval, escatologia pornográfica, Consumo Canibal, Luxo Pesado, S.L.A. Your Mind Baby S.L.A. On Your Mind S.L.A. On Your Mind Baby S.L.A. Yourself Baby. Pra fechar essa parte, foi descoberta a mais antiga escultura feminina, a Vênus de Galgemberg. Foi encontrada na Áustria e data de trinta mil anos atrás. O barato dessa descoberta, é que essa estátua é radicalmente diferente da última estátua feminina mais antiga, a Vênus Calipígia, de doze mil anos. A Vênus Calipígia tinha ancas largas e maciças, além de fortes seios, o que levava aos arqueólogos a pensarem na mulher primitiva apenas como uma mulher de grande resistência física e capacidade utilitária, além de notável parideira. Já a Vênus de Galgemberg é esbelta e inequivocamente posada, a perna esquerda está ligeiramente arqueada e o dorso semi-girado par a direita, braço erguido de forma empinar o seio. Autêntica pin-up das príscas eras. A Ciência Dando de Cara com os Primórdios da Vaidade, da sedução e da vontade artística de registrar a mulher-em-pose. Por essas e outras é que a Vênus de Galgemberg está sendo chamado de A Vênus Dançante – S.L.A. Radical Dance Disco Club é um tributo a essa Vênus dançante, um tributo aos prazeres da carne, dos elementos da indústria, do luxo e do lixo chique ou kitsch, da mente excitada, dos ambientes de aglomeração festiva. Um Tributo à Inteligência que só o prazer dá.
Depois disso tudo, só me resta dizer o seguinte: além da novidade tecnotrônica na produção do disco (se existe uma coisa indigente em se tratando de música no Brasil é sua produção em estúdio) que pode servir de abertura pra outras idéias de produção sonora (coisa que lá fora é corriqueiro), o disco da Fernanda é um ótimo atalho para nova forma de vidas no panorama pop brasileiro pós-overdose de rock, brega e lambada. Principalmente em se tratando de cantoras, geralmente líberas e tímidas intérpretes. Espero que o sucesso desse disco faça sair da toca qualquer bárbaro, qualquer bárbara manipuladora eletrônica. Qualquer Nova Forma de Vida Pop que ainda não surgiu no nosso ecossistema de show business. Fernanda, como já disse, é mais que uma mulher bela e talentosa, é um Choque de Cleópatras iluminando todos nós. Agora esse choque vai chegar ao grande público em forma de disco solo. Ótima trilha sonora pra animar qualquer tipo de amor, aventura, lugar ou circunstância. É botar o disco na vitrola e sonhar com Boates Instaladas em Palácios cujos tetos altíssimos são Céus de Mentira, céus cujas estrelas são Najas Holográficas. Estrelas de cobra projetadas em furta-cor. Acabou a choradeira, Fernanda chegou com seu S.L.A. Radical Dance Disco Club. Podem desencapar o fio da alma e receber esse choque de Cleópatras. Tenho dito.