A tarde cai
A noite vem atropelando
Todos os chatos desanimados
Tá na hora de acordar e sair
E ver que a vida é se divertir
A noite é negra
E os holofotes vasculham
Toda essa escuridão
À procura de um lugar ideal
Pra dançar e barbarizar
Dance
A noite é quente
A noite é fria
Uma droga de arrepiar
E não importa mais se existe razão
Não tem pecado, nem perdão
You and me
Eu quero é me divertir
Moi et toi
A noite é feita pra dançar
You and me
Moi et toi…
Dance
Se é que existe diferença entre o bem e o mal
Dance
Se é que existe diferença entre o inferno e o céu
Dance
Se é que existe diferença entre as trevas e a luz
Dance
(D-I-S-C-O – We gonna disco all night)
Relache tes fesses
Relache tes hanches
S’ll existe une
Différence entre le bien et le mal
Don’t push me
Cause I’m close
To the edge
I’m trying not to
Lose my head It’s like a jungle
Sometimes it makes
Me wonder how l deep
From going under
Hoje é uma noite como outra qualquer
E na sua casa vemos uma menina
Uma menina muito interessante
E mesmo que não pareça, sua vida é dura
Hoje é uma noite qualquer
E lá está a menina, parada e pensando
Sentindo as palavras, indo e voltando
Sua mente trabalha, trabalha sem parar
Mas ela sabe que a noite é um grande negócio
Então decide sair e caminhar pelas ruas
Seu pensamento é interrompido por um som
Vindo de um lugar não muito distante
Sla radical dance disco club
Sla radical dance club
Foi só ela entrar e se deparar
Com um ambiente requintado e cru
Um som vital, um ritmo quente
Uma grande pista multirreluzente
Ela gosta de excitar seus sentidos
De ampliar seu poder de observação
Seus olhos tentam ver tudo, e assim
Sua boca, sua mão e assim seu coração
E já não é uma noite como outra qualquer
E no centro da pista está a menina
Dançando, sorrindo e dançando
Seu corpo trabalha, trabalha sem parar
Sla radical dance disco club
Sla radical dance club
Frases fulminantes
Cruzam o céu da sala
É fogo cruzado
Entre eu e você
No meio da fumaça
Meus olhos vermelhos
E tudo que eu desejo
É uma prova de amor
Somos kamikazes
Kamikazes do amor
Nos atiramos um pro outro
Sem salvação
Lá fora o sol queima
Os nossos pensamentos
Já quentes e ardentes
De tantas confissões
Mas nada me fará
Desistir de conseguir
Arrancar da sua boca
O beijo souvenir
– Tu vas pas m’inviter à danser?
– Mets un peu de sucre pour tourner sur le disque
– Laisse ma bouche te toucher…
Sou nigth club go-go
Taxi Dancer
Video-stripper go-go
To be real
Fui criada ouvindo
Hooked on classics, on gothicks, lisergics on rocks
Hooked on blues and funk and soul
Beneath the mambo sun
I’ve got to be the one
I’m a needless fairy of the hedonism
I’m a needless fairy of the decadence
Reality is just like flashing – kitsch trash
Do you like my hair?
Do you like my hips?
Do you like my breasts?
Do you like my eyes?
Let my lips touch you…
Sou garota rica
Condessa do torpor
Sou cobaia de decorador
Tu sais bien que j’aime tes cheveux?
Tu sais bien que j’aime tes cuisses?
Tu sais bien que j’aime tes seins?
Tu sais bien que j’aime tes yeux?
To be real
‘S got to be real
Beneath the mambo sun
I’ve got to be the one
É incrível a nossa história
Sem nenhuma prova concreta
Só palavras, que voam com o vento
Imagens que eu guardo na memória
Um segredo inviolável
De uma paixão inflamável
Mas que nunca incendeia
Nem em noite de lua cheia
Às vezes passo dias inteiros
Imaginando e pensando em você
E eu fico com tantas saudades
Que até parece que eu posso morrer
Pode acreditar em mim
Você me olha, eu digo sim
Mas eu nem sei se sofro assim
O que eu quero é você pra mim
Como o mar que avança contra as rochas
Ferindo-as, cinzelando o litoral
Dando-lhe os mais agradáveis recortes
O homem talha a pedra, recorta-a em formas maravilhosas
E se o sol, se debruça no horizonte
Sangrando as curvas das montanhas
Que reverberam, desesperadamente, dolorosamente,
Os fins de tarde, as últimas luzes,
O pintor copia o fenômeno, molda-o,
Transforma-o ou deforma-o de acordo com a
Sua arte, de acordo com a sua alma
Penso na história,
Nas grandes invenções,
A selção natural,
As civilizações
Se o vento assobia, o mar ruge, o trovão atroa,
Os pássaros chilream, a chuva martela,
O homem se inspira nessa sinfonia natural,
Reúne sons, escreve e compõe as mais lindas melodias
E se as árvores balançam, as nuvens se
Redesenham lentamente, os animais saltam,
O mar se move em ondas num balém sem fim,
O homem se inspira nessa harmoniosa coreografia e cria
As formas e os movimentos mais belos: a própria dança
Assim são as maravilhas do mundo
Feitas pela natureza e pelo homem
Space
Sound
Space sound to dance
Cada dia que passa
É mais um dia que passa
Pra onde o destino me leva
Eu não sei
Eu ando pela cidade
Speed Racer pela cidade
Mach 5 cor de prata
Em alta velocidade
Em alta velocidade
De dentro do meu carro, eu vejo
A chuva, o sol, o vento e as nuvens
Dando voltas na Lagoa, eu penso
A vida nem sempre é boa
A vida nem sempre é boa
Até por ruas mais estreitas
Ou por grandes avenidas
Cruzando viadutos e túneis
Passam-se dias e noites
Passam-se dias e noites
Rasgando o espaço
Eu sinto o sol
Batendo em minha cara
Eu tenho a força
Eu sou veloz
No Mach 5 em alta velocidade
Em alta velocidade
Cientistas Alemães
Genéticos zoólogos
Criaram
Uma vênus cat-people
Saíram atrás da pulsação perdida
No sangue da mais remota felina
No meu corpo corre a espuma do sangue
De antigas leopardas sedutoras
Felina adrenalina pré-histórica
Fernanda cat-people
Vênus cat-people
Sou aquela cujo corpo é sonho
Sou aquela cuja alma é sonho
Desejada fracção do eterno feminino
Você que anda cabisbaixo sem ter o que fazer
De saco cheio do seu rádio e da voz da TV
Tudo que você escuta, te parece igual
A solução pros seus problemas acabou de chegar
É radical
Sla funky club
É radical
Sla dance disco club
O nosso clube é diferente, todo mundo é igual
Não tem feio nem bonito, antigo ou atual
Hebe, fonsa, renatinho, kiko, brum e siri
Bootsy collins, neneh cherry, barry white, james brown
É radical
Sla funky club
É radical
Sla dance disco club
Everybody was Kung Fu fighting
those cats were fast as lightning
In fact it was a little bit frightening
but they fought with expert timing
There were funky China men
from funky China Town
They were chopping them up
They were chopping them down
It’s an ancient Chinese art
and everybody knew their part
from a feinting to a slip
And a kicking from the hip
Everybody…
There was funky Billy Chin
and little Sam mi Chung
He said: here comes the big boss
let’s get it on
He took the bow and made a stand
started swaying with the hand
A sudden motion made me skip
now we’re into a brand new trip
Everybody…
Atrás da pulsação
30 anos após o lançamento de Sla Radical Dance Disco Club, Fernanda Abreu revisita o álbum que se tornou um divisor de águas da música pop nacional.
“Existia um certo preconceito com a música dançante”, lembra Fernanda Abreu: “Nos anos 1970, quando abriram as discotecas, vivíamos o pior momento da Ditadura, então a MPB era a trilha sonora predominante e a ideia de sair pra dançar era considerada alienada naquele momento de resistência política. Toda a disco music e a estética das danceterias eram vistas como o lixo do lixo e subproduto da música pop”. – E eu nunca achei isso, sempre achei que “intelecto” e “corpo” são a mesma coisa. O corpo precisa se expressar, não pode ficar oprimido por uma cabeça pensante que o paralise. Através dele, é possível debater uma série de questões sobre a alma humana, que é o que interessa em última instância quando as pessoas estão fazendo arte. Então, quis trazer essa outra parada, esse outro olhar. Era isso que estava na mente de Fernanda quando decidiu que faria seu primeiro disco solo. Essa reflexão, e sua verdadeira conexão com a música através da dança foi o ponto de partida para o que viria a ser o álbum Sla Radical Dance Disco Club.
E no centro da pista está a menina
Nascida no Rio de Janeiro no dia 8 de setembro de 1961, Fernanda sempre foi ligada em música, especialmente por causa da dança. Quando criança, na virada dos anos 1960 para os 70, adorava imitar os passos do Jackson 5 e já era fã dos primeiros representantes nacionais do funk e do soul: “Eu curtia mesmo dançar e curtia a música black. Com dez anos, lembro de ficar dançando a ‘BR-3’, do Tony Tornado, eram esses caras, Jorge Ben, Tim Maia, Hyldon, Cassiano”.
Aos nove, a dança ganhou mais espaço ainda, quando passou a estudar balé na tradicional escola da bailarina Tatiana Leskova, onde se formaria anos depois. A adolescência chegou trazendo suas dificuldades, mas foi nesse período que Fernanda aprofundou sua pesquisa musical e, de novo, por causa da dança: “Custei a me desenvolver, tinha pouco peito, era baixinha, magrinha, aos 15 anos as pessoas me davam 11. Então, eu chegava nas festas e não fazia o menor sucesso”, conta:
– Mas eu já dançava bem, aí eu pensei: “Quer saber, vou gravar umas fitas K7 e levar pra festas e dançar”. Comecei a botar nos K7s as coisas que eu gostava de disco/funk e funk: A Taste Of Honey, Chic, Kool and the Gang, Parliament, Funkadelic… Tinha um arsenal gigante de disco nos anos 70, e tinha um monte de genéricos que eram quase legais, mas eu só escolhia as melhores. E aí minha vida mudou. Na terceira festa, neguinho já estava esperando a Fernanda chegar com a fita cassete pra festa rolar. E rolava! Então, tive esse ouvido, testei muito, vi as músicas que funcionavam. Arrumei meu primeiro namorado dançando no centro da pista, foi libertador pra mim.
Por volta dos 17, Fernanda entrou nos cursos de Arquitetura da UFRJ e de Sociologia da PUC e, aos 20, fazia parte de duas companhias de dança contemporânea, o grupo Coringa, da Graciela Figueroa, e o Fonte, do Carlos Affonso. Novamente, foi a através da dança que a sua vida daria uma reviravolta: “Levamos, eu e Cris Amadeo, uma coreografia/dueto pra competir no Festival de Dança Contemporânea na Bahia no TCA e aí conheci o Luiz Stein, que fazia o cenário do grupo Coringa”, conta Fernanda sobre seu futuro marido e parceiro por muitos anos.
O ano era 1981, o mesmo em que Fernanda começou a cantar com um grupo. “Minha primeira banda, Nota Vermelha, foi com Leo Jaime, que conheci numa aula de ballet clássico, e Fabio Fonseca, que foi fundamental mais à frente na minha estreia solo”, explica. Nessa mesma época, Evandro Mesquita e Ricardo Barreto já tocavam juntos nos primórdios da Blitz, mas estavam pensando em reformular a banda, e aí surgiu o nome da Fernanda:
– O Barreto era o guitarrista, principal compositor da Blitz com o Evandro, e era namorado da Márcia [Bulcão], minha vizinha. Eu e ela íamos todos dias juntas para o ponto de ônibus, ela chegou a namorar o meu irmão, éramos muito amigas, e ela me falou: “Ah, eu tô namorando um guitarrista que tem uma banda chamada Blitz, mas eles já estão de saco cheio porque estão tocando e não tá acontecendo nada, e querem botar duas meninas de vocalistas, meio na onda do Kid Creole and the Coconuts. E aí, você topa?”.
Fernanda topou na hora. Na ocasião, a Blitz estava com um show marcado no início de 1982 no recém lançado Circo Voador, e o ensaio era na casa da Márcia. “Quando cheguei, conheci o Evandro, cantei um pouco, conheci as músicas ali. Lembro que na hora a gente já fez o ‘Você Não Soube me Amar’, enfiamos algumas coisas naquele diálogo e tal”.
– E aí o Evandro falou: “Pô Fernanda, que coisa, a gente vai fazer praticamente o último show da Blitz e a gente queria te convidar”. O Evandro chamou todo mundo de rádio, de gravadora, tudo, para esse “último” show da Blitz e os caras viram e ficaram loucos. Aí contrataram a Blitz pra fazer o single “Você Não Soube Me Amar”, que vendeu um milhão e meio de compactos. Aí os caras piraram.
Pra onde o destino me leva
O lançamento de “Você Não Soube Me Amar” foi como pegar uma onda que se mostrou um tsunami. Pelos próximos anos, até 1986, Fernanda Abreu assumiria, ao lado de Márcia, os vocais femininos daquela que seria uma das maiores bandas da sua geração. “Foi muito louco, eu era muito novinha fazendo shows em estádio de futebol”, lembra Fernanda: “Era tipo Justin Bieber, uma multidão na porta do hotel gritando seu nome. A Blitz era gigante”. Com a banda, ela gravou três LPs, tocou muito na mídia e fez muitos shows, incluindo a primeira edição do festival Rock In Rio, na qual a Biltz fez duas apresentações, tocando para centenas de milhares de pessoas. Nas palavras de Fernanda, a Blitz foi para ela “graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado”.
Na época em que a Blitz anunciou sua separação, em março de 1986, Fernanda tinha apenas 24 anos. Até aquele momento, ela havia dedicado-se por inteira à banda e não tinha pensado ainda em criar um trabalho próprio. “Quando a Blitz acabou, a primeira coisa que fiz foi voltar para a dança”, lembra: “Mas aí o Fausto [Fawcett] me ligou”. Fernanda conta que já admirava o Fausto desde a época em que estavam na PUC.
– O Fausto é genial. Na PUC, ele já pregava uns cartazes da Farah Fawcett, a loura linda do seriado “As Panteras”, e já falava aqueles textos, e eu ficava pensando: “Puts, esse cara é muito louco”. Quando acabou a Blitz, ele me ligou e falou: “Porra, vamos finalmente trabalhar?”. Aí trabalhamos uns três anos juntos. Fizemos vários espetáculos, dirigi shows dele e participei dos dois discos do Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros.
Nos anos seguintes, Fernanda faria parcerias importantes com Fausto, como “Rio 40 Graus” e regravaria seu hit “Kátia Flávia”. Segundo o próprio, ele e Fernanda acabaram tornando-se, com o tempo, intérpretes um do outro: “Sempre consegui fazer aquelas músicas que dão uma síntese do que ela pretende nos discos dela. Ao mesmo tempo, ela é a garota que fala ritmicamente os meus textos da forma mais contundente”, diz Fawcett à NOIZE. “Juliette”, lançada em 1987 no primeiro disco dele, foi a primeira faixa gravada por Fernanda Abreu solo. Impulsionado pelo sucesso desse álbum, que trazia “Kátia Flávia”, Fausto fez seu segundo disco, o Império dos Sentidos (1989), que contou com a produção de Herbert Vianna e a direção do show de Fernanda.
O músico já conhecia Fernanda desde os tempos da Blitz, que circulava pelos mesmos espaços que Os Paralamas do Sucesso, e, durante a produção desse LP de Fausto, ele incentivou muito a amiga a criar algo autoral. “A Fernanda sempre me chamou a atenção”, diz Herbert Vianna em entrevista à NOIZE: “Sua conexão com ritmo e melodia já estavam bem à frente do rock Brasil dos anos 1980”, diz.
– O Herbert foi um cara bem importante na minha carreira. Na gravação do Império dos Sentidos, ele me falou: “Pô Fernanda, tá na hora de você lançar um disco solo, você tá cantando super bem”. Eu falei: “É, mas é que ainda tô procurando o meu caminho, preciso entender melhor o que é isso”. “Beleza, quando você tiver algumas músicas me chama que eu quero produzir”.
Naquele momento, Fernanda estava trabalhando muito nos shows e gravações do Fausto. Nesse contexto, em São Paulo, ela conheceu a equipe da casa Aeroanta, que promovia eventos chamados de “Aerojam” nos quais artistas eram convidados para tocar músicas de que gostavam, mas que estavam fora do seu repertório convencional. Com isso, Fernanda acabou criando seu primeiro show solo com um setlist só de disco music para apresentar lá. “Aí montei minha primeira banda, que foi o Fábio Fonseca nos teclados, Fernando Vidal na guitarra, Aurélio Dias no baixo e Bodão na bateria”, lembra. O show foi um sucesso e esse time acabou sendo praticamente a banda de base do disco Sla Radical Dance Disco Club.
Um som vital, um ritmo quente
Desde que a Blitz havia acabado, em 1986, Fernanda Abreu era convidada constantemente por várias gravadoras a assinar um contrato para fazer um disco seu. “As pessoas me cobravam isso: ‘Vai esperar todo mundo te esquecer? Vamos lá, vamos assinar um contrato!’. E eu falei: “Não, gente… Eu não tenho repertório pra assinar e eu não vou fazer um disco com o repertório de vocês. Então, deixa eu ficar aqui na minha e pensar o que eu vou fazer’”.
Ela não sabe precisar a data, mas conta que, em um determinado momento no fim dos anos 1980, o produtor Liminha lhe deu de presente o equipamento necessário para entender o caminho a seguir: a bateria eletrônica Boss DR-220. “Parou na minha mão essa máquina, era uma bateria pequenininha”, lembra. O aparelhinho poderia parecer inofensivo, mas tinha o poder de fogo de um arsenal.
Até então, equipamentos desse tipo ainda eram novidades raras no Brasil e Fernanda nunca tinha tido a chance de explorar por si mesma as possibilidades sonoras de uma drum machine. Quando começou a criar alguns beats com ela em sua casa, Fernanda acabou tornando-se, sem saber, uma das mulheres pioneiras na produção de beats no Brasil. “Eu comecei a fazer isso, mas eu não tinha nenhuma noção, eu só tinha vontade”, diz a artista. Acompanhada apenas pelas batidas da DR-220, Fernanda Abreu compôs a primeira música de sua vida: “Kamikazes do Amor”.
– Comecei então a compor e a primeira pergunta que me veio era: Que artista era essa que eu queria lançar como carreira solo? Qual era minha ideia em termos de linguagem musical, de linguagem estética? Que som eu queria fazer? Eu vinha de uma banda muito importante de pop rock, que tinha uma força grande na estética musical e visual, era muito colorida. E eu tinha outra pegada. Minha história dentro da música vem muito por conta da minha veia da dança. Aí fui começando a direcionar as minhas letras e o meu som para o universo da noite e das pistas. Vi que queria fazer uma música pop dançante, então comecei a trabalhar com bateria eletrônica e com programação. E foi daí que surgiu a vontade de fazer uma carreira solo – explica.
Foi esse conceito que orientou toda a concepção de Sla Radical Dance Disco Club. “Sla”, uma abreviação do sobrenome dela (Sampaio de Lacerda Abreu), foi usado como se fosse o nome de uma danceteria, um “Club”, e a busca pelos sons que fazem o corpo mexer orientou todo o álbum. A segunda faixa que Fernanda criou foi justamente “A Noite”, uma composição que ela considera como um “editorial” que apresentava essas ideias. Ela então ligou para Herbert Vianna e iniciaram a pré-produção de quatro faixas. “Ele deu um puta aval, produziu a demo e levou a fita pro Jorge Davidson [diretor artístico da EMI], aí eles gostaram e me contrataram”.
A EMI era também a gravadora d’Os Paralamas do Sucesso e Herbert, ao lado de Fabio Fonseca, foi responsável pela produção do disco de estreia de Fernanda, que também assinou o trabalho como coprodutora. “Na produção, nossa busca foi por um som com melodia, ritmo dançante e eletrônico, mas com um sotaque brasileiro. O que a Fernanda chamava de samba-funk”, conta Herbert Vianna. O Paralama explica que o processo era mais ou menos assim: “A Fernanda trazia as ideias, eu tentava dar um caminho na produção e o Fabio trazia outros sons e as texturas. Lembro que o Fabio sempre falava: ‘Peraí que eu vou achar um som aqui no computer’”.
Fernanda Abreu também chama atenção para o fato de que Sla Radical… foi um disco feito justamente no momento de transição entre a música analógica e computadorizada. “Era um disco híbrido entre tecnologia e músicos. Tinha guitarra, baixo e tal, mas a gente também fez esse disco com computador, tinha programação de bateria eletrônica, de teclado”, lembra, destacando que o grande responsável por isso era o Fabio Fonseca:
– Como tecladista, que curtia essa coisa de timbre, ele tinha muitos teclados analógicos, mas ele tinha também uma LinnDrum e uma TR-808, que eram baterias eletrônicas. E ele comprou um sistema de gravação em computador, eram disquetes e era o máximo da tecnologia pra se fazer música na época. Lembro de vários momentos do Fábio pegando um manual pra ver como algo funcionava, foi um aprendizado pra todo mundo.
“Eu tinha uma LinnDrum, que era bem rara, e a gente usou em ‘Você Pra Mim’ e outras músicas, eu trabalhava direto sequenciando as coisas. Foi um momento importante pra todos nós”, confirma Fábio. “Trabalhar com Fernanda Abreu foi uma alegria e aprendizado do qual tenho orgulho que carrego com prazer até hoje”, concorda Herbert Vianna. Gravado nos estúdios da EMI em janeiro e fevereiro de 1990, Sla Radical… foi produzido a partir de um processo de liberdade e experimentação raríssimos e Fernanda, Fabio e Herbert são unânimes ao comentar o clima de alegria que tomou conta da gravação. “Foi muito prazeroso trabalhar com os dois”, lembra Herbert. “Lembro que a gente até jogou basquete no estúdio! Nos divertimos muito”, acrescenta Fabio.
– Eu tive muita liberdade. Acho que, por conta dos executivos da gravadora não sacarem muito qual era a onda da linguagem musical, tive essa sorte. Por algum motivo, eles devem ter pensado: “Ah, essa garota é louca”. (risos) Eu já tinha sido da mesma gravadora antes e, na época da Blitz, não era nada disso. No segundo disco da Blitz , os caras chegaram e falaram: “E aí, cadê o segundo ‘Você Não Soube Me Amar?’”. E nesse disco, não. A gente ficava lá no estúdio livre, leve e solto, não vinha ninguém monitorar – conta Fernanda.
Essa liberdade possibilitou que os artistas não poupassem o uso de samples. Fernanda e Fábio destacam que Sérgio Mekler estava bem presente ajudando a colorir o álbum com colagens de outras músicas. “O disco estava pronto, mas no final a gente deu um upgrade nele. Pedimos mais uns dias pra EMI, levamos um sampler pro estúdio e sampleamos tudo que a gente queria. Passamos dias sampleando”, lembra Fernanda Abreu. “Isso foi bem importante pra linguagem do Sla Radical… e acho que a EMI foi corajosa. Se fosse hoje, os caras não teriam lançado aquele disco, mas também era outra época, sem legislações sobre o assunto”, avalia referindo-se às dificuldades burocráticas envolvidas no licenciamento de samples hoje em dia.
Como a grande intenção do álbum era homenagear a cultura das festas, Fernanda fez questão de trazer para o projeto dois DJs que estavam revitalizando as pistas. DJ Memê, um dos expoentes da música eletrônica no Brasil, foi chamado para produzir o house de “Space Sound To Dance”. Já DJ Marlboro, que havia acabado de consolidar a batida que iria guiar o movimento do funk carioca, participou de “Luxo Pesado”, “Kamikazes do Amor” e “Disco Club 2 (Melô do Radical)”.
O nosso clube é diferente
Quanto à parte musical, Fernanda ficou muito solta. No entanto, o mesmo não pode ser dito da capa e do título do disco. Segundo a artista, o diálogo entre ela e a gravadora foi mais ou menos assim:
– E o nome do disco, Fernanda?
– Sla Radical Dance Disco Club!
– Gente, o que é isso? Como é que alguém vai falar isso?
– Não sei… Mas é um club, de Sampaio de Lacerda Abreu.
– Tá, vai…
Com a capa, a história foi parecida. Fernanda diz que, quando os executivos comerciais viram pela primeira vez a imagem criada pelo Luiz Stein, com uma foto desfocada e em preto e branco, simplesmente não acreditaram:
-Você tá de sacanagem, Fernanda? Você vai mudar essa capa.
– Mas por quê?!
– Você é linda, você é solar! O público tem que fazer a conexão da Fernandinha da Blitz com a Fernanda Abreu. Você tinha aquele cabelo curtinho, por que você não corta o cabelo? Pra que esse cabelão? Eu não tô entendendo por que essa negação.
– Gente… Não tem negação nenhuma. O tempo passou. Era 86, agora é 1990. Vamos com cabelão! Vamos fora de foco! Acreditem!
– Mas preto e branco?!
– Gente, porra… Vamos vir com um negócio novo! Não vamos vir com uma coisa requentada de Blitz, vamos apostar aí!
“E os caras apostaram. Foi bom que deu certo, se não funcionasse ia ser um mico (risos). Mas se você acredita num negócio, você tem que manter seu foco, essa é que é a verdade”, diz Fernanda. E apesar de qualquer questionamento, quando saiu, o disco foi um sucesso: “Lembro de ter vendido uns 50 mil discos. Todos na gravadora comemoraram muito, acho que eles pensaram que ia vender mil”.
Em 1990, Sla Radical… foi lançado em vinil, fita cassete e no inovador (para a época) formato de CD. “A Noite” saiu em um single em vinil trazendo 2 mixagens alternativas à versão do álbum. O mesmo aconteceu com “Kamikazes do Amor”, que saiu em um single que traz mix alternativas da faixa e um remix de “Você Pra Mim”. Teve ainda um terceiro single do disco, que trazia duas versões da faixa-título (original e remixada) e ainda “Disco Club 2 (Melô Do Radical)”. Esses lançamentos tinham tudo a ver com a relação da artista com a cultura das pistas: “Ela sempre pensou nos DJs, sempre. Conheço a Fernanda há 30 anos e ela sempre teve essa preocupação”, diz DJ Memê à NOIZE.
Além do sucesso nas pistas, o disco ganhou as TVs. Impulsionado pela recém lançada MTV Brasil, o álbum teve clipes produzidos para quatro de suas faixas: “A Noite”, “Você Pra Mim”, “Speed Racer” e “Sla Radical Dance Disco Club”. “A gente tinha uma qualidade de projeto visual super bacana, isso foi importante”, diz Fernanda. Além dos clipes, ela dedicou-se a participar dos principais programas da época:
– A minha performance na TV e no palco levou muito o disco. Quando você faz um disco dançante, você tem que dançar. E dançar bem! Então, eu fui pra televisão mandando ver. Aquilo chamou muita atenção e todo mundo me chamava. Eu estava na Xuxa, na Angélica, sábado sim, sábado não. Toda hora eu estava na TV, o que alavancou muito o disco.
Sla Radical Dance Disco Club foi o primeiro marco da carreira solo muito bem sucedida que Fernanda Abreu desenvolveria nos anos seguintes. Mas, mais do que isso, foi um álbum que se tornou um divisor de águas na música pop nacional. A noção de uma música pop nacional baseada em beats e samples consolidou-se a partir dali e hoje, olhando para trás, Fernanda sente muito orgulho desse trabalho:
– O Sla Radical… foi um disco super marcante na minha carreira. E foi interessante porque, na época, já foi considerado pioneiro. Era um disco muito diferente do que estava acontecendo na indústria da música. Hoje, vejo que foi um disco importante também pra música pop dançante brasileira. E acho que os arranjos dele não ficaram datados, tanto que, hoje, em 2020, muitos DJs novinhos ainda tocam a versão original de “A Noite”, por exemplo, e bate nas pistas. O disco guarda ainda essa atmosfera da dança, do hedonismo, do desejo, do corpo, do encontro. Acho que ele mantém a chama original dele.
James Brown, Rolling Stones, Trio Elétrico, Festa de São João, bailes gigantescos e clubes suburbanos ou sobrados do Catete, Nazareth, Bachman Turner Overdrive, Michael Jackson, Wanderléa, Jovem Guarda, Centro Espírita, pontos de macumba, Sunshine Band, Bailes da Pesada, Big Boy, Cidinho Cambalhota, Ademir Ritmos de Boate, Titãs, Hip Hop, reggae, ghetoblaster, rumba, merengue, frevo, xaxado, samba, Escolas de Pagode, Bailes de Formatura, Heavy Metal, disco music, Dancing Days, twist, swing, charme, fox-trot, hully gully, charleston, valsa, tango, gafieira, Studio 54, Morro da Urca, forró, mulatas do Sargentelli, rock, funk, soul, new wave, rituais em toda a África, dança da chuva, coreografias indígenas por todo o planeta, Tim Maia, Malcon MacLaren, Carmem Miranda, Madonna, Isadora, Nureyev, Gudonov, Gene Kelly, Fred Astaire, Carlos Affonso, lambada, Jackson Five, Sex Pistols, punk and headbanger dance, Sly and Family Stone, Chic, Chacretes, go-gos, dançarinas do ventre, Lady Zu, Xuxa, Dzi Croquetes, New York Dolls, Carlota Jazz Portela, Nijinsky, Hippopotamus, Papagaio, Jean Paul Gaultier, êxtases religiosos, aeróbica, dança moderna, balé, patinação no gelo, nado sincronizado, ginástica rítmica, blocos baianos, blocos cariocas, marchas militares, danças folclóricas, Pet Shop Boys, Rap-pers Delight, Kraftwerk, Malboro, Haideé, Grahan, break, streap-tease, Elvis, festas ciganas, quintais, play-grounds, quadras, ginásios, pistas, passarelas, palcos, coberturas e chás dançantes, Paralamas, Barry White. Apenas uma avalanche de nomes de pessoas, lugares e tipos de música que tem a ver com o movimento corporal, delícia de movimento, delícia corporal. Música pra dançar, de Strauss a Madonna, sempre foi considerada coisa menor, mero Euforizante Pop pras massas infanto-juvenis ou boêmios dançantes em feral. Música pra dançar sempre foi considerada um blefe musical de teor kitsch. Algo menor, se comparado a tanta música séria instrumental (refinamento e pesquisa) clássica ou mesmo popular (letras engajadas em psicologismo ou politicismos). Coisa menor, vejam só. Mas vou deixar esse papo pra mentes e corpos mesquinhos e medíocres, porque o que nos interessa é que existem no geral duas instâncias da condição humana. A primeira tem a ver com nosso impulso civilizatório, vontade de organizar a natureza, as relações sociais, visando a um maior conforto existencial (senso crítico, cosnciência ética, cidadania, arte-ciência, tecnologia, afirmação do ego), tudo contribuindo pra ilusão de que a vida é refém desse impulso organizador.
A segunda é o contrário total que namora a primeira. A diluição do ego, o impulso transformador da destruição, da Ânsia Obscena de Transcendência Impossível via orgias, fascinações, abandonos corporais, prazeres absurdos. S.L.A. Radical Dance Disco Club (e qualquer dance music) vai fundo na segunda instância (pois segundo reza a lenda freudiana do mal-estar da civilização, nós, criaturas de impulsos hostis, vertigens éticas, ternuras carentes e Inteligência Técnica Emocionante somos devidamente domados pela consciência social e civilizatória e por isso Estamos Sempre Produzindo ou Sendo Perturbados por desejos de aniquilação, dissolução, sacrifício e evasão do ego. Sentimos como o corpo é pouco e como essa Dúvida Chamada Espírito tá encurralada nessa dimensão (cinco sentidos, carne, tempo e espaço). Esses desejos se manifestam em assaltos de demência festiva, vontade de se acabar de prazer, vontade de carnaval, escatologia pornográfica, Consumo Canibal, Luxo Pesado, S.L.A. Your Mind Baby S.L.A. On Your Mind S.L.A. On Your Mind Baby S.L.A. Yourself Baby. Pra fechar essa parte, foi descoberta a mais antiga escultura feminina, a Vênus de Galgemberg. Foi encontrada na Áustria e data de trinta mil anos atrás. O barato dessa descoberta, é que essa estátua é radicalmente diferente da última estátua feminina mais antiga, a Vênus Calipígia, de doze mil anos. A Vênus Calipígia tinha ancas largas e maciças, além de fortes seios, o que levava aos arqueólogos a pensarem na mulher primitiva apenas como uma mulher de grande resistência física e capacidade utilitária, além de notável parideira. Já a Vênus de Galgemberg é esbelta e inequivocamente posada, a perna esquerda está ligeiramente arqueada e o dorso semi-girado par a direita, braço erguido de forma empinar o seio. Autêntica pin-up das príscas eras. A Ciência Dando de Cara com os Primórdios da Vaidade, da sedução e da vontade artística de registrar a mulher-em-pose. Por essas e outras é que a Vênus de Galgemberg está sendo chamado de A Vênus Dançante – S.L.A. Radical Dance Disco Club é um tributo a essa Vênus dançante, um tributo aos prazeres da carne, dos elementos da indústria, do luxo e do lixo chique ou kitsch, da mente excitada, dos ambientes de aglomeração festiva. Um Tributo à Inteligência que só o prazer dá.
Depois disso tudo, só me resta dizer o seguinte: além da novidade tecnotrônica na produção do disco (se existe uma coisa indigente em se tratando de música no Brasil é sua produção em estúdio) que pode servir de abertura pra outras idéias de produção sonora (coisa que lá fora é corriqueiro), o disco da Fernanda é um ótimo atalho para nova forma de vidas no panorama pop brasileiro pós-overdose de rock, brega e lambada. Principalmente em se tratando de cantoras, geralmente líberas e tímidas intérpretes. Espero que o sucesso desse disco faça sair da toca qualquer bárbaro, qualquer bárbara manipuladora eletrônica. Qualquer Nova Forma de Vida Pop que ainda não surgiu no nosso ecossistema de show business. Fernanda, como já disse, é mais que uma mulher bela e talentosa, é um Choque de Cleópatras iluminando todos nós. Agora esse choque vai chegar ao grande público em forma de disco solo. Ótima trilha sonora pra animar qualquer tipo de amor, aventura, lugar ou circunstância. É botar o disco na vitrola e sonhar com Boates Instaladas em Palácios cujos tetos altíssimos são Céus de Mentira, céus cujas estrelas são Najas Holográficas. Estrelas de cobra projetadas em furta-cor. Acabou a choradeira, Fernanda chegou com seu S.L.A. Radical Dance Disco Club. Podem desencapar o fio da alma e receber esse choque de Cleópatras. Tenho dito.
SLA Arranjos vocais Fernanda Abreu com colaboração de Felipe Abreu nas faixas “A Noite”, “Você Pra Mim” e “Luxo Pesado” Direção Artística Jorge Davidson Produzido por Herbert Vianna e Fabio Fonseca Co-produzido por Fernanda Abreu Produção Executiva Fabio Fonseca Assistente de produção Jerônimo Machado Programação de computador Fabio Fonseca e Chico Neves Gerente de estúdio EMI-Odeon Sergio Bittencourt Gravado nos estúdios EMI-Odeon em janeiro e fevereiro de 1990 Mixado no estúdio Nas Nuvens em março de 1990 Técnico de gravação Renato Luiz Técnico de mixagem Vitor Farias Assistentes de gravação e mixagem Jorge Brum e Marcio Paquetá (EMI-Odeon) Mauro Bianchi e Antoine Midani (Nas Nuvens) Corte Oswaldo e Paulo (BMG-SP) Operador de Sampler (Nas Nuvens) Mauro Bianchi Masterizado no estúdio Nas Nuvens por Vitor Farias e Sergio Bittencourt + Capa – Direção de arte Luiz Stein Fotos Flávio Colker (Fotos realizadas em Londres, fevereiro 1990) Desenhos Capa Interna (cor) Fernanda Abreu Capa Interna (pb) Fernanda Abreu, Luiz Stein, Fernanda Feldman, Valentina Joels, Clarice Laus Coordenação Gráfica Egeu Laus AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Luiz – Herbert – Fábio – George Israel (Siri) – Serginho – Fausto – Laufer – Felipe (toques vocais) – Fernando – Aurélio – Bodão – Chico Neves (kiko) – Alexandre (chambinho) – Zé Fortes – Liminha – Memê – Malboro – Iraí – tuta Aquino – Joey Moskowitz (piano kamikaze) – Hermano Vianna – Jorge Davison – Pai – Mãe – Vó – Caio Márcio (coleção “disco”) – Jerônimo – Flávio Colker – Luzia – Clarisse – Isabel (london) – Lobato’s Brothers – Marçal – Demétrio – João Brandão – Leoni – Scowa – Dudu Marote – Mathilda – Marco Veloso – Marcia Serejo – Arícia M. – Suely M. – Beni – Paulo André – Michael Reade – Zé Luiz – Fernandinha – Vale – Clarice – Marcia Stein – Evaldo e Waltinho (S.P.) – Renatinho – Simon – Cecília Assef – Patrícia e todo pessoal da Odeon – Vitor Farias – Guilherme – Mauro – Antoine – Angelina (rango) e todo pessoal das “Nuvens” – Foxy – Sly Stone – Prince – M. Jacko – K.C. – J. Brown – Neneh – De La Soul II Soul – Caila – Chulito – G. Clinton – B. White – Chic – Caetano – Gil – Sylvester – Grandmaster Flash – Blitz – Bootsy – Paralamas.
“…Se visses como ela dança! Todo o seu coração, toda a sua alma estão ali; todo o seu corpo é de uma harmonia e de um tal abandono que a dança parece ser tudo para ele, não ter outro pensamento, não sentir mais coisa alguma e, certamente, tudo o mais desaparecer.” Werther Goethe