2020 – Revista Noize Club – Ariel Fagundes

Atrás da pulsação

30 anos após o lançamento de Sla Radical Dance Disco Club, Fernanda Abreu revisita o álbum que se tornou um divisor de águas da música pop nacional.

“Existia um certo preconceito com a música dançante”, lembra Fernanda Abreu: “Nos anos 1970, quando abriram as discotecas, vivíamos o pior momento da Ditadura, então a MPB era a trilha sonora predominante e a ideia de sair pra dançar era considerada alienada naquele momento de resistência política. Toda a disco music e a estética das danceterias eram vistas como o lixo do lixo e subproduto da música pop”. – E eu nunca achei isso, sempre achei que “intelecto” e “corpo” são a mesma coisa. O corpo precisa se expressar, não pode ficar oprimido por uma cabeça pensante que o paralise. Através dele, é possível debater uma série de questões sobre a alma humana, que é o que interessa em última instância quando as pessoas estão fazendo arte. Então, quis trazer essa outra parada, esse outro olhar. Era isso que estava na mente de Fernanda quando decidiu que faria seu primeiro disco solo. Essa reflexão, e sua verdadeira conexão com a música através da dança foi o ponto de partida para o que viria a ser o álbum Sla Radical Dance Disco Club.

E no centro da pista está a menina

Nascida no Rio de Janeiro no dia 8 de setembro de 1961, Fernanda sempre foi ligada em música, especialmente por causa da dança. Quando criança, na virada dos anos 1960 para os 70, adorava imitar os passos do Jackson 5 e já era fã dos primeiros representantes nacionais do funk e do soul: “Eu curtia mesmo dançar e curtia a música black. Com dez anos, lembro de ficar dançando a ‘BR-3’, do Tony Tornado, eram esses caras, Jorge Ben, Tim Maia, Hyldon, Cassiano”.

Aos nove, a dança ganhou mais espaço ainda, quando passou a estudar balé na tradicional escola da bailarina Tatiana Leskova, onde se formaria anos depois. A adolescência chegou trazendo suas dificuldades, mas foi nesse período que Fernanda aprofundou sua pesquisa musical e, de novo, por causa da dança: “Custei a me desenvolver, tinha pouco peito, era baixinha, magrinha, aos 15 anos as pessoas me davam 11. Então, eu chegava nas festas e não fazia o menor sucesso”, conta:

– Mas eu já dançava bem, aí eu pensei: “Quer saber, vou gravar umas fitas K7 e levar pra festas e dançar”. Comecei a botar nos K7s as coisas que eu gostava de disco/funk e funk: A Taste Of Honey, Chic, Kool and the Gang, Parliament, Funkadelic… Tinha um arsenal gigante de disco nos anos 70, e tinha um monte de genéricos que eram quase legais, mas eu só escolhia as melhores. E aí minha vida mudou. Na terceira festa, neguinho já estava esperando a Fernanda chegar com a fita cassete pra festa rolar. E rolava! Então, tive esse ouvido, testei muito, vi as músicas que funcionavam. Arrumei meu primeiro namorado dançando no centro da pista, foi libertador pra mim.

Por volta dos 17, Fernanda entrou nos cursos de Arquitetura da UFRJ e de Sociologia da PUC e, aos 20, fazia parte de duas companhias de dança contemporânea, o grupo Coringa, da Graciela Figueroa, e o Fonte, do Carlos Affonso. Novamente, foi a através da dança que a sua vida daria uma reviravolta: “Levamos, eu e Cris Amadeo, uma coreografia/dueto pra competir no Festival de Dança Contemporânea na Bahia no TCA e aí conheci o Luiz Stein, que fazia o cenário do grupo Coringa”, conta Fernanda sobre seu futuro marido e parceiro por muitos anos.

O ano era 1981, o mesmo em que Fernanda começou a cantar com um grupo. “Minha primeira banda, Nota Vermelha, foi com Leo Jaime, que conheci numa aula de ballet clássico, e Fabio Fonseca, que foi fundamental mais à frente na minha estreia solo”, explica. Nessa mesma época, Evandro Mesquita e Ricardo Barreto já tocavam juntos nos primórdios da Blitz, mas estavam pensando em reformular a banda, e aí surgiu o nome da Fernanda:

– O Barreto era o guitarrista, principal compositor da Blitz com o Evandro, e era namorado da Márcia [Bulcão], minha vizinha. Eu e ela íamos todos dias juntas para o ponto de ônibus, ela chegou a namorar o meu irmão, éramos muito amigas, e ela me falou: “Ah, eu tô namorando um guitarrista que tem uma banda chamada Blitz, mas eles já estão de saco cheio porque estão tocando e não tá acontecendo nada, e querem botar duas meninas de vocalistas, meio na onda do Kid Creole and the Coconuts. E aí, você topa?”.

Fernanda topou na hora. Na ocasião, a Blitz estava com um show marcado no início de 1982 no recém lançado Circo Voador, e o ensaio era na casa da Márcia. “Quando cheguei, conheci o Evandro, cantei um pouco, conheci as músicas ali. Lembro que na hora a gente já fez o ‘Você Não Soube me Amar’, enfiamos algumas coisas naquele diálogo e tal”.

– E aí o Evandro falou: “Pô Fernanda, que coisa, a gente vai fazer praticamente o último show da Blitz e a gente queria te convidar”. O Evandro chamou todo mundo de rádio, de gravadora, tudo, para esse “último” show da Blitz e os caras viram e ficaram loucos. Aí contrataram a Blitz pra fazer o single “Você Não Soube Me Amar”, que vendeu um milhão e meio de compactos. Aí os caras piraram.

Pra onde o destino me leva

O lançamento de “Você Não Soube Me Amar” foi como pegar uma onda que se mostrou um tsunami. Pelos próximos anos, até 1986, Fernanda Abreu assumiria, ao lado de Márcia, os vocais femininos daquela que seria uma das maiores bandas da sua geração. “Foi muito louco, eu era muito novinha fazendo shows em estádio de futebol”, lembra Fernanda: “Era tipo Justin Bieber, uma multidão na porta do hotel gritando seu nome. A Blitz era gigante”. Com a banda, ela gravou três LPs, tocou muito na mídia e fez muitos shows, incluindo a primeira edição do festival Rock In Rio, na qual a Biltz fez duas apresentações, tocando para centenas de milhares de pessoas. Nas palavras de Fernanda, a Blitz foi para ela “graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado”.

Na época em que a Blitz anunciou sua separação, em março de 1986, Fernanda tinha apenas 24 anos. Até aquele momento, ela havia dedicado-se por inteira à banda e não tinha pensado ainda em criar um trabalho próprio. “Quando a Blitz acabou, a primeira coisa que fiz foi voltar para a dança”, lembra: “Mas aí o Fausto [Fawcett] me ligou”. Fernanda conta que já admirava o Fausto desde a época em que estavam na PUC.

– O Fausto é genial. Na PUC, ele já pregava uns cartazes da Farah Fawcett, a loura linda do seriado “As Panteras”, e já falava aqueles textos, e eu ficava pensando: “Puts, esse cara é muito louco”. Quando acabou a Blitz, ele me ligou e falou: “Porra, vamos finalmente trabalhar?”. Aí trabalhamos uns três anos juntos. Fizemos vários espetáculos, dirigi shows dele e participei dos dois discos do Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros.

Nos anos seguintes, Fernanda faria parcerias importantes com Fausto, como “Rio 40 Graus” e regravaria seu hit “Kátia Flávia”. Segundo o próprio, ele e Fernanda acabaram tornando-se, com o tempo, intérpretes um do outro: “Sempre consegui fazer aquelas músicas que dão uma síntese do que ela pretende nos discos dela. Ao mesmo tempo, ela é a garota que fala ritmicamente os meus textos da forma mais contundente”, diz Fawcett à NOIZE. “Juliette”, lançada em 1987 no primeiro disco dele, foi a primeira faixa gravada por Fernanda Abreu solo. Impulsionado pelo sucesso desse álbum, que trazia “Kátia Flávia”, Fausto fez seu segundo disco, o Império dos Sentidos (1989), que contou com a produção de Herbert Vianna e a direção do show de Fernanda.

O músico já conhecia Fernanda desde os tempos da Blitz, que circulava pelos mesmos espaços que Os Paralamas do Sucesso, e, durante a produção desse LP de Fausto, ele incentivou muito a amiga a criar algo autoral. “A Fernanda sempre me chamou a atenção”, diz Herbert Vianna em entrevista à NOIZE: “Sua conexão com ritmo e melodia já estavam bem à frente do rock Brasil dos anos 1980”, diz.

– O Herbert foi um cara bem importante na minha carreira. Na gravação do Império dos Sentidos, ele me falou: “Pô Fernanda, tá na hora de você lançar um disco solo, você tá cantando super bem”. Eu falei: “É, mas é que ainda tô procurando o meu caminho, preciso entender melhor o que é isso”. “Beleza, quando você tiver algumas músicas me chama que eu quero produzir”.

Naquele momento, Fernanda estava trabalhando muito nos shows e gravações do Fausto. Nesse contexto, em São Paulo, ela conheceu a equipe da casa Aeroanta, que promovia eventos chamados de “Aerojam” nos quais artistas eram convidados para tocar músicas de que gostavam, mas que estavam fora do seu repertório convencional. Com isso, Fernanda acabou criando seu primeiro show solo com um setlist só de disco music para apresentar lá. “Aí montei minha primeira banda, que foi o Fábio Fonseca nos teclados, Fernando Vidal na guitarra, Aurélio Dias no baixo e Bodão na bateria”, lembra. O show foi um sucesso e esse time acabou sendo praticamente a banda de base do disco Sla Radical Dance Disco Club.

Um som vital, um ritmo quente

Desde que a Blitz havia acabado, em 1986, Fernanda Abreu era convidada constantemente por várias gravadoras a assinar um contrato para fazer um disco seu. “As pessoas me cobravam isso: ‘Vai esperar todo mundo te esquecer? Vamos lá, vamos assinar um contrato!’. E eu falei: “Não, gente… Eu não tenho repertório pra assinar e eu não vou fazer um disco com o repertório de vocês. Então, deixa eu ficar aqui na minha e pensar o que eu vou fazer’”.

Ela não sabe precisar a data, mas conta que, em um determinado momento no fim dos anos 1980, o produtor Liminha lhe deu de presente o equipamento necessário para entender o caminho a seguir: a bateria eletrônica Boss DR-220. “Parou na minha mão essa máquina, era uma bateria pequenininha”, lembra. O aparelhinho poderia parecer inofensivo, mas tinha o poder de fogo de um arsenal.

Até então, equipamentos desse tipo ainda eram novidades raras no Brasil e Fernanda nunca tinha tido a chance de explorar por si mesma as possibilidades sonoras de uma drum machine. Quando começou a criar alguns beats com ela em sua casa, Fernanda acabou tornando-se, sem saber, uma das mulheres pioneiras na produção de beats no Brasil. “Eu comecei a fazer isso, mas eu não tinha nenhuma noção, eu só tinha vontade”, diz a artista. Acompanhada apenas pelas batidas da DR-220, Fernanda Abreu compôs a primeira música de sua vida: “Kamikazes do Amor”.

– Comecei então a compor e a primeira pergunta que me veio era: Que artista era essa que eu queria lançar como carreira solo? Qual era minha ideia em termos de linguagem musical, de linguagem estética? Que som eu queria fazer? Eu vinha de uma banda muito importante de pop rock, que tinha uma força grande na estética musical e visual, era muito colorida. E eu tinha outra pegada. Minha história dentro da música vem muito por conta da minha veia da dança. Aí fui começando a direcionar as minhas letras e o meu som para o universo da noite e das pistas. Vi que queria fazer uma música pop dançante, então comecei a trabalhar com bateria eletrônica e com programação. E foi daí que surgiu a vontade de fazer uma carreira solo – explica.

Foi esse conceito que orientou toda a concepção de Sla Radical Dance Disco Club. “Sla”, uma abreviação do sobrenome dela (Sampaio de Lacerda Abreu), foi usado como se fosse o nome de uma danceteria, um “Club”, e a busca pelos sons que fazem o corpo mexer orientou todo o álbum. A segunda faixa que Fernanda criou foi justamente “A Noite”, uma composição que ela considera como um “editorial” que apresentava essas ideias. Ela então ligou para Herbert Vianna e iniciaram a pré-produção de quatro faixas. “Ele deu um puta aval, produziu a demo e levou a fita pro Jorge Davidson [diretor artístico da EMI], aí eles gostaram e me contrataram”.

A EMI era também a gravadora d’Os Paralamas do Sucesso e Herbert, ao lado de Fabio Fonseca, foi responsável pela produção do disco de estreia de Fernanda, que também assinou o trabalho como coprodutora. “Na produção, nossa busca foi por um som com melodia, ritmo dançante e eletrônico, mas com um sotaque brasileiro. O que a Fernanda chamava de samba-funk”, conta Herbert Vianna. O Paralama explica que o processo era mais ou menos assim: “A Fernanda trazia as ideias, eu tentava dar um caminho na produção e o Fabio trazia outros sons e as texturas. Lembro que o Fabio sempre falava: ‘Peraí que eu vou achar um som aqui no computer’”.

Fernanda Abreu também chama atenção para o fato de que Sla Radical… foi um disco feito justamente no momento de transição entre a música analógica e computadorizada. “Era um disco híbrido entre tecnologia e músicos. Tinha guitarra, baixo e tal, mas a gente também fez esse disco com computador, tinha programação de bateria eletrônica, de teclado”, lembra, destacando que o grande responsável por isso era o Fabio Fonseca:

– Como tecladista, que curtia essa coisa de timbre, ele tinha muitos teclados analógicos, mas ele tinha também uma LinnDrum e uma TR-808, que eram baterias eletrônicas. E ele comprou um sistema de gravação em computador, eram disquetes e era o máximo da tecnologia pra se fazer música na época. Lembro de vários momentos do Fábio pegando um manual pra ver como algo funcionava, foi um aprendizado pra todo mundo.

“Eu tinha uma LinnDrum, que era bem rara, e a gente usou em ‘Você Pra Mim’ e outras músicas, eu trabalhava direto sequenciando as coisas. Foi um momento importante pra todos nós”, confirma Fábio. “Trabalhar com Fernanda Abreu foi uma alegria e aprendizado do qual tenho orgulho que carrego com prazer até hoje”, concorda Herbert Vianna. Gravado nos estúdios da EMI em janeiro e fevereiro de 1990, Sla Radical… foi produzido a partir de um processo de liberdade e experimentação raríssimos e Fernanda, Fabio e Herbert são unânimes ao comentar o clima de alegria que tomou conta da gravação. “Foi muito prazeroso trabalhar com os dois”, lembra Herbert. “Lembro que a gente até jogou basquete no estúdio! Nos divertimos muito”, acrescenta Fabio.

– Eu tive muita liberdade. Acho que, por conta dos executivos da gravadora não sacarem muito qual era a onda da linguagem musical, tive essa sorte. Por algum motivo, eles devem ter pensado: “Ah, essa garota é louca”. (risos) Eu já tinha sido da mesma gravadora antes e, na época da Blitz, não era nada disso. No segundo disco da Blitz , os caras chegaram e falaram: “E aí, cadê o segundo ‘Você Não Soube Me Amar?’”. E nesse disco, não. A gente ficava lá no estúdio livre, leve e solto, não vinha ninguém monitorar – conta Fernanda.

Essa liberdade possibilitou que os artistas não poupassem o uso de samples. Fernanda e Fábio destacam que Sérgio Mekler estava bem presente ajudando a colorir o álbum com colagens de outras músicas. “O disco estava pronto, mas no final a gente deu um upgrade nele. Pedimos mais uns dias pra EMI, levamos um sampler pro estúdio e sampleamos tudo que a gente queria. Passamos dias sampleando”, lembra Fernanda Abreu. “Isso foi bem importante pra linguagem do Sla Radical… e acho que a EMI foi corajosa. Se fosse hoje, os caras não teriam lançado aquele disco, mas também era outra época, sem legislações sobre o assunto”, avalia referindo-se às dificuldades burocráticas envolvidas no licenciamento de samples hoje em dia.

Como a grande intenção do álbum era homenagear a cultura das festas, Fernanda fez questão de trazer para o projeto dois DJs que estavam revitalizando as pistas. DJ Memê, um dos expoentes da música eletrônica no Brasil, foi chamado para produzir o house de “Space Sound To Dance”. Já DJ Marlboro, que havia acabado de consolidar a batida que iria guiar o movimento do funk carioca, participou de “Luxo Pesado”, “Kamikazes do Amor” e “Disco Club 2 (Melô do Radical)”.

O nosso clube é diferente

Quanto à parte musical, Fernanda ficou muito solta. No entanto, o mesmo não pode ser dito da capa e do título do disco. Segundo a artista, o diálogo entre ela e a gravadora foi mais ou menos assim:

– E o nome do disco, Fernanda?

– Sla Radical Dance Disco Club!

– Gente, o que é isso? Como é que alguém vai falar isso?

– Não sei… Mas é um club, de Sampaio de Lacerda Abreu.

– Tá, vai…

Com a capa, a história foi parecida. Fernanda diz que, quando os executivos comerciais viram pela primeira vez a imagem criada pelo Luiz Stein, com uma foto desfocada e em preto e branco, simplesmente não acreditaram:

-Você tá de sacanagem, Fernanda? Você vai mudar essa capa.

– Mas por quê?!

– Você é linda, você é solar! O público tem que fazer a conexão da Fernandinha da Blitz com a Fernanda Abreu. Você tinha aquele cabelo curtinho, por que você não corta o cabelo? Pra que esse cabelão? Eu não tô entendendo por que essa negação.

– Gente… Não tem negação nenhuma. O tempo passou. Era 86, agora é 1990. Vamos com cabelão! Vamos fora de foco! Acreditem!

– Mas preto e branco?!

– Gente, porra… Vamos vir com um negócio novo! Não vamos vir com uma coisa requentada de Blitz, vamos apostar aí!

“E os caras apostaram. Foi bom que deu certo, se não funcionasse ia ser um mico (risos). Mas se você acredita num negócio, você tem que manter seu foco, essa é que é a verdade”, diz Fernanda. E apesar de qualquer questionamento, quando saiu, o disco foi um sucesso: “Lembro de ter vendido uns 50 mil discos. Todos na gravadora comemoraram muito, acho que eles pensaram que ia vender mil”.

Em 1990, Sla Radical… foi lançado em vinil, fita cassete e no inovador (para a época) formato de CD. “A Noite” saiu em um single em vinil trazendo 2 mixagens alternativas à versão do álbum. O mesmo aconteceu com “Kamikazes do Amor”, que saiu em um single que traz mix alternativas da faixa e um remix de “Você Pra Mim”. Teve ainda um terceiro single do disco, que trazia duas versões da faixa-título (original e remixada) e ainda “Disco Club 2 (Melô Do Radical)”. Esses lançamentos tinham tudo a ver com a relação da artista com a cultura das pistas: “Ela sempre pensou nos DJs, sempre. Conheço a Fernanda há 30 anos e ela sempre teve essa preocupação”, diz DJ Memê à NOIZE.

Além do sucesso nas pistas, o disco ganhou as TVs. Impulsionado pela recém lançada MTV Brasil, o álbum teve clipes produzidos para quatro de suas faixas: “A Noite”, “Você Pra Mim”, “Speed Racer” e “Sla Radical Dance Disco Club”. “A gente tinha uma qualidade de projeto visual super bacana, isso foi importante”, diz Fernanda. Além dos clipes, ela dedicou-se a participar dos principais programas da época:

– A minha performance na TV e no palco levou muito o disco. Quando você faz um disco dançante, você tem que dançar. E dançar bem! Então, eu fui pra televisão mandando ver. Aquilo chamou muita atenção e todo mundo me chamava. Eu estava na Xuxa, na Angélica, sábado sim, sábado não. Toda hora eu estava na TV, o que alavancou muito o disco.

Sla Radical Dance Disco Club foi o primeiro marco da carreira solo muito bem sucedida que Fernanda Abreu desenvolveria nos anos seguintes. Mas, mais do que isso, foi um álbum que se tornou um divisor de águas na música pop nacional. A noção de uma música pop nacional baseada em beats e samples consolidou-se a partir dali e hoje, olhando para trás, Fernanda sente muito orgulho desse trabalho:

– O Sla Radical… foi um disco super marcante na minha carreira. E foi interessante porque, na época, já foi considerado pioneiro. Era um disco muito diferente do que estava acontecendo na indústria da música. Hoje, vejo que foi um disco importante também pra música pop dançante brasileira. E acho que os arranjos dele não ficaram datados, tanto que, hoje, em 2020, muitos DJs novinhos ainda tocam a versão original de “A Noite”, por exemplo, e bate nas pistas. O disco guarda ainda essa atmosfera da dança, do hedonismo, do desejo, do corpo, do encontro. Acho que ele mantém a chama original dele.