por Fernanda Abreu
Nasci às 23:00 hs do dia 08 de setembro de 1961 no Rio de Janeiro (Virgem com ascendente Touro), 1 ano e 11 dias depois do meu único irmão Felipe. Meus pais tiveram os filhos cedo e seguidos. Sou filha de mãe CARIOCA e bibliotecária (Vera) e pai português e arquiteto (Armando). Meus avós por parte de pai também são portugueses de Lisboa e por parte de mãe são cariocas com descendência tanto de negros quanto índios. Nesse sentido, sou uma das representantes da miscigenação brasileira. Tenho no meu sangue a mistura das três raças (europeus, negros e índios) que fizeram parte da formação do povo brasileiro.
Nasci no Rio, uma cidade cosmopolita e carismática. Uma espécie de capital cultural do país, referência pra todo o Brasil. Rio -cidade tropical, cidade cordial, cidade hardcore, cidade de contrastes, cidade de cidades misturadas, de uma beleza invejável e de uma personalidade e um CHARME incríveis. Sou brasileira sendo carioca. Nasci, cresci e me criei aqui.
Tive uma INFÂNCIA tranquila. Família classe média. Desde os 4 anos morei numa casa com piscina (no verão era um sucesso) no Jardim Botânico. Uma casa de 2 andares que meu pai projetou e construiu, onde meus pais e minha avó moram até hoje. Era uma casa muito animada porque no andar de cima morávamos eu, meu irmão e meus pais e embaixo moravam meus avós por parte de mãe com seus dois filhos temporões (ao todo são 5), mais os cachorros, as tartarugas, os primos e primas, os empregados e os agregados de ocasião. Nesse ambiente fui crescendo.
Sempre estudamos (eu e Felipe) em ESCOLA pública por princípio dos meus pais, o que refletiu na diversidade dos nossos amigos. Praticamente todos os trabalhos de grupo eram feitos lá em casa com direito a banho de piscina no final. Sempre fizemos muitas festas (aniversários, casamentos, reveillons, noites de natal e comemorações em geral). Desde os 8 anos passavamos muitos fins de semana na casa de um casal amigo do meu pai (Alfredo e Ione) em Teresópolis. Lá eles passavam grande parte do tempo tocando e cantando samba e bebendo. Eles tinham um grupo amador chamado “A Patota”. Meu pai tocava cuíca e minha mãe cantava e tocava ganzá. E nós, as crianças (o casal tinha 4 filhos) ficavamos em volta brincando. Nesse ambiente fui crescendo.
Quando fiz 9 anos minha mãe me colocou no BALÉ por recomendação de um médico ortopedista. Acertou. Eu sempre fui meio exibida, então a partir dalí pude direcionar melhor essa energia. Minha primeira professora de balé (por mais de 10 anos) foi Tatiana Leskova. Ela me ensinou tudo de dança, e um pouco mais. Valores como disciplina, determinação, concentração, auto-exigência, competição, superação e humildade estavam presentes o tempo todo. Na mesma época eu e meu irmão começavamos a participar de corais e festivais de musica da escola. Meus pais sempre deram força e incentivaram o nosso gosto pelas artes. Fiz cursos de ingles, violão, canto, dança e outros ocasionais.
Lá pelos 17/18 anos prestei vestibular para Arquitetura na UFRJ e Sociologia na PUC. Comecei cursando Arquitetura porque tinha habilidade para desenho, mas não suportava cálculo. Acabei abandonando 6 meses depois. Fui pra PUC e cursei Sociologia durante 3 anos. Quando faltava mais ou menos 1 ano pra me formar entrei pra Blitz e não voltei mais pra FACULDADE. A PUC é uma história a parte na minha vida. Haviam 2 PUCs: a PUC das salas de aula (onde exercitei a discussão, argumentação e leitura) e a PUC dos pilotis. Foi ali onde fiz meus grandes amigos, aonde se fazia política, onde arrumei meus namorados, aonde se combinava a praia no Posto 9 (Ipanema), e também onde rolavam performances, shows, teatro, rádio pirata, ou seja, era aonde tudo acontecia.
O ano de 1981 (entre 19 e 20 anos) foi determinante pra mim. Meu avô que morava comigo (desembargador e grande referência da família) faleceu. Eu estava fazendo tudo ao mesmo tempo. Faculdade, dança clássica, dança contemporânea (participei de dois grupos na época; o “Coringa” da Graciela Figueroa e o “Fonte” do Carlos Affonso, dois mestres da dança contemporânea) grupos de coral, banda com Leo Jaime (“Nota Vermelha”), uns 2 namorados ao mesmo tempo; até que no final do ano eu entrei pra Blitz e conheci o LUIZ Stein. A partir dalí, sem saber, meu futuro estava delineado.
A partir de 82 fui saindo de casa aos poucos até que casei com Luiz (em maio de 83) e vivi 5 anos de Blitz com direito a 3 discos de muito sucesso, muitos shows, muitas viagens, muitos momentos maravilhosos e alguns nem tanto. Uma grande amizade com Evandro e com a Marcia (que já era minha vizinha do Jardim Botânico). Vivi intensamente tudo que se pode viver sendo parte de um grupo POP de muito sucesso no início da década de 80. E tudo ao lado do Luiz que fazia junto com o Gringo Cardia (na época tinham um estúdio chamado “A Bela Arte”) toda a parte visual da Blitz (capas e cenários).
Em 86, quando a BLITZ se dissolveu, fiquei no meu canto digerindo e maturando aquilo tudo que eu tinha vivido. Comecei a trabalhar aos poucos e com calma no próximo passo: a carreira solo. Voltei a estudar violão, comecei as aulas de canto com Felipe (que até hoje, não só é meu professor, como também arranja e produz no estúdio todas as vozes dos discos). Ao mesmo tempo, passei 4 anos trabalhando com um grupo de pessoas que se tornariam alguns dos meus melhores amigos e que são referência pra mim até hoje (Fausto Fawcett, Laufer e Serginho Mekler). Fizemos shows, discos, músicas, performances, etc…
O ano de 1989 foi um daqueles em que tudo acontece. Eu já tinha algumas composições prontas para um provável disco solo quando reencontrei o Herbert Vianna produzindo o disco “Império dos Sentidos” do Fausto (a última vez que tínhamos nos visto, foi num festival em Buenos Aires em 1986, onde tocaram “Blitz” e “Paralamas”). Aprontamos a fita demo. Na mesma época, eu estava dirigindo o show “Império dos Sentidos” no Aeroanta, em São Paulo, quando conheci o técnico de som Evaldo Luna (que trabalha comigo até hoje). Ele me convidou pra fazer um show numa noite onde rolavam umas jam-sessions. Voltei pro Rio, liguei pro Fabio Fonseca (que tinha tocado comigo na banda “Nota Vermelha”) e montamos uma banda pra tocar algumas pérolas da “Disco Music”. Então aconteceu o que eu mais queria: ter uma banda de FUNK.
Conheci Fernando Vidal (guitarrista), Aurelio Dias (baixistas) e Bodão (baterista) e junto com Fabio fizemos o show. Este show foi o início de tudo. Hoje tenho o orgulho de dizer que esses caras ainda tocam comigo. São a alma do meu som. São grandes amigos. Crescemos artisticamente juntos. E tudo isso ao lado do Luiz. Só de pensar, fico emocionada. A partir daí formamos uma EQUIPE, uma grande equipe.
Gravei e lancei meu primeiro disco solo em 1990 produzido por Herbert Vianna e Fabio Fonseca. Nesse ano também conheci Chico Neves. Na sequência montamos o show de lançamento. O SHOW é um capítulo a parte. Gosto de “dirigir” shows (principalmente os meus). Gosto de pensar no roteiro musical, nos arranjos e principalmente na equipe que vai trabalhar comigo. Zé Luis Joels (grande amigo do Luiz desde os tempos da faculdade) faz a luz, Deborah Colker (bailarina e grande amiga dos tempos de dança) faz junto comigo a coreografia, Jeronymo Machado (meu amigo desde os tempos de pilotis da PUC) o produtor e empresário, e José Fortes (empresário dos “Paralamas” e apresentado a mim por Jeronymo) meu empresário, e é lógico, Luiz Stein (responsável por toda a representação visual-capas, cenários, vídeos e etc…).
O resto taí na homepage. Os discos, os shows, os vídeos, as parcerias, enfim a história toda. Pra completar essa tentativa de olhar pra trás e contar uma história, o dia 14 de junho de 1992 foi um dos mais especiais da minha vida. Neste domingo às 16:00 hs, nascia SOFIA Abreu Mermelstein, minha filha, fruto dessa grande relação com o Luiz.
De 1997 (quando escrevi essa autobiografia) ate hoje, muita coisa aconteceu e outras tantas permaneceram iguais… porém diferentes. Sofia que cresceu, meu casamento com Luiz que se fortaleceu,minha relação com meus amigos continua verdadeira e duradoura, meu empresario agora é Jerônymo Machado (Zé Fortes continua muito amigo mas trabalhando apenas para o Paralamas), etc…
O que eu tenho de mais importante pra acrescentar em relação a biografia que tá aí é o nascimento da minha segunda filha ALICE no dia 07 de dezembro de 1999 as 10:22 hs da manhã. Passei a gravidez da Alice compondo e trabalhando no projeto do disco “Entidade Urbana”.
Dois meses depois que ela nasceu entrei no estudio pra gravar. Foram nove meses entre gravação, mixagem, masterização, capa do disco, revista e etc… E sempre amamentando a minha bebezinha.
Temos agora tambem uma cachorrinha, a Laika, uma boxer muito linda e companheira de todos da familia. Ela fez 2 anos em outubro e já estamos pensando em cruza-la e ficar com mais uma cadelinha.
Agora estamos em 2006, muita água já rolou. Mudei de empresário (agora é João Mario Linhares), tenho uma produtora que cuida da minha vida (Graziele Caetano), saí da gravadora EMI (que foi sempre minha gravadora desde os tempos da Blitz), criei meu próprio selo chamado “Garota Sangue Bom”, minha própria editora “Da Lata Edições Musicais”, meu próprio estúdio onde gravo meus discos, o Pancadão, a Laika continua firme e forte e teve 11 filhotes de sua única ninhada e ficamos com mais um boxer em casa, o Beto.
Sofia já esta com 13 anos, tem uma banda (Output), gosta de Rock’n’roll (Led Zeppelin, The Who, Rolling Stones, White Stripes) e está descobrindo a música e se descobrindo. Também desenha maravilhosamente bem. Alice está com 6 anos, aprendendo a ler e escrever e tem um suingue danado! Dança muito e gosta muito de música (e das minhas músicas também!). Alice é bem comunicativa enquanto Sofia é mais introspectiva (com os adultos, como ela mesma diz). As duas se completam (e brigam também). Luiz está cada vez mais “famoso” e trabalhando muito. Já não tem tanto tempo pra trabalhar comigo como antes. Brigamos sempre que estamos trabalhando juntos (em clipes, capas, cenários e etc) porque nunca tem o tempo que eu considero suficiente pra se dedicar ao meu trabalho e se reunir comigo. Santo de casa não faz milagre!
Meus pais estão mais velhos, precisando de mais atenção, cuidado e carinho, mas com a mesma cabeça aberta e tentando interagir com as novas tecnologias. Minha única avó viva (por parte de mãe) esta velhinha mas continua com a língua afiada e meu avô (por parte de pai) acabou de falecer aos 102 anos. Felipe é tão requisitado nas produções vocais de vários artistas que mal consigo falar com ele pra botar em dia o papo familiar.
Depois de seis discos de estúdio finalmente fiz meu primeiro registro ao vivo de um show em CD e DVD. Estou muito feliz! A MTV me convidou e aceitei fazer o MTV-AO VIVO. Veio bem a calhar. 16 anos de carreira solo, tantos shows.. As gravações foram ótimas! O clima entre as equipes (da MTV, a minha equipe, a Universal Music e do Teatro Carlos Gomes) foi a melhor possivel. Essa coisa de gravar em CD e DVD um show ao vivo me fez lembrar de todos os outros shows e turnês que já fiz e de todos os profissionais-amigos que trabalharam comigo pelos palcos da vida. Dedico esse projeto a eles!
E ao Fã-clube também! Sempre tão dedicados, respeitosos e elegantes comigo. Bem, é isso aí. Agora é esperar o projeto ir pra rua e cair no mundo novamente! Aqui em casa continuo com o apoio luxuoso da Severina (babá das meninas desde que Sofia tinha quatro meses de idade) que me dá tranqüilidade pra estar sempre na estrada cantando e dançando até quando Deus quiser! Meu nome é Fernanda Sampaio de Lacerda Abreu… Mais conhecida como Fernanda Abreu… ou… Fernanda, para os ÍNTIMOS.
“É curioso, os que têm menos intimidade a chamam de Fernandinha” – Herbert Vianna